DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

TEMOR E MEDO

Quando falamos da letra Phe dizíamos que toda palavra tem força e poder, domínio. É por isso que na Kabbalah aprendemos a respeitá-la e a perseguir o sentido verdadeiro do que ela possa vir a expressar.

É comum, por exemplo, observar o espanto que causa a expressão “temor a D’us”; alguns, por sinal, acacianamente chegam a retrucar: a D’us devemos amá-lo... como se se tratasse de mera questão de semântica...

Ensina-nos o filósofo judeu, uma das figuras fascinantes dos tempos de hoje (falecido em 1972), que temor é aquilo que está encoberto e oculto e isso equivale a ser conhecido e aberto para D’us. Dessarte, Não é um sinônimo de desconhecido, mas, antes um nome para um significado que permanece em relação a Deus.


Diz Glória Hazan na sua magnífica obra “Filosofia do Judaísmo”, comentando o pensamento do filósofo: “O temor é o princípio da Sabedoria (um parêntese para nossa observação: - na Kabbalah, na Árvore das Vidas, é a Séfira Hoch-mah (Sabedoria) mistério, o que está oculto, por vezes, a emanação do Oculto do Oculto) – continua a autora – Nessa medida tanto um significado quanto uma sabedoria fundamentais são encontrados em Deus e em nossa relação com Ele, e não dentro do mundo”. E continua a autora assinalando que Heschel explica que esse relacionamento se dá no temor como um caminho de compreensão, um ato de insight de um significado que está acima de nós próprios, como uma via régia para a Sabedoria.

Assim, para HESCHEL o temor é uma intuição da dignidade de todas as coisas e sua preciosidade para Deus, uma concepção de que as coisas não são apenas o que são, mas também representam, embora remotamente, algo absoluto.

E mais adiante diz: o significado do temor é conceber que a vida toma lugar sob vastos horizontes que vão além do período de uma vida individual ou até mesmo de vida de uma nação, geração ou época. O temor nos capacita a perceber no fundo insinuações do divino, sentir em pequenas coisas o princípio da significância infinita, sentir o essencial no comum e no simples, sentir na torrente do que passa a tranqüilidade do eterno.

Para Heschel o conhecimento é sustentado pela curiosidade, mas a sabedoria pelo temor.

Aprendemos na Kabbalah que a Sabedoria é o princípio. No Gênese 1:1: No princípio (Be Reshit) D’us criou o céu e a terra. Be Reshit é Bet Reshit. A palavra princípio não é outra coisa senão a Sabedoria. Está, portanto, escrito Salmos (111:10) O princípio é a sabedoria, o temor a D’us. (Bahir, p.26)
Heschel afirma que temor é diferente de medo – comenta Gloria Hazan – e explica o medo por antecipação e a probabilidade do mal ou da dor, contrastando com a felicidade, que é a expectativa do bem. Temor, por outro lado, é o sentimento do maravilhoso e humildade pelo sublime, ou sentido na presença do mistério. Medo é abandono aos socorros que a razão oferece (Sal. 1712) ... Temor, distante do medo, não nos faz recuar ante o objeto que inspira temor, mas, ao contrário, nos atrai para perto de si. Isto acontece por que temor é compatível com amor e gozo. (Dt 10,12)

...O temor precede a fé e está na origem da fé. Devemos crescer em temor a fim de buscar a fé. Entendemos que só podemos crescer em temor à medida que tomamos consciência da onipresença de Deus. Devemos ser orientados pelo temor para ser merecedores da fé.

... A perda do temor é o grande impedimento para o insight (...) Os maiores insights nos acontecem em momentos de temor. Aqueles que sentem o maravilhoso compartilham do maravilhoso.

Num mundo em que se não distingue medo de temor, não se pode distinguir segredo de mistério, nem conhecimento de Sabedoria, por isso, não se distingue universo de D’us. E, assim... uma questão de saber, ou de conhecer ?

Paz Plena,

Ozam

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