DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.
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terça-feira, 1 de novembro de 2011

COMENTANDO IV – O MODELO MÁGICO TALISMÂNICO

Reportamo-nos aos três modelos de pensamentos cabalísticos abordados pelo tratadista Moshe Idel (o Teúrgico – teosófico, o Extático e, agora, o terceiro que iremos comentar, o Mágico Talismânico), vale anotar que não só foram importantes no que aportaram, como foram reveladoras para o entendimento mesmo de muitas outras questões centrais da Kabbalah, permitindo novas interpretações dessas questões,  conforme a lógica própria de cada um desses modelos.
Moshe Idel parte da hipótese de trabalho que diferentes modelos especulativos acabam por informar o pensamento, a práxis e até, também, os escritos de vários mestres cabalistas e hassídicos.

O terceiro modelo encontra-se pois, em tantos outros escritos pertencentes aos dois primeiros, já que a magia judaica sendo desde antes um velho e tradicional assunto da sabedoria judaica se apresentava sob várias formas, desde a Antiguidade e, se por um lado, alguns autores tivessem se apropriado de seus elementos, outros, os repeliram. Como tal, registra-se dois tipos de Kabbalah, a Prática (Qabalá Maasit) e a Especulativa (Qabalá Iunit).


A Mágica vai se evidenciar por volta do fim do século XV, embora haja diferentes maneiras de explicar como a magia possa atuar. Por exemplo, na Idade Média, então sob a influência de filosofias dominantes entre os árabes supunha-se que “apegando-se a fonte espiritual que governa este mundo, sobretudo a alma universal, o místico, ou o filósofo pode analisar os acontecimentos do mundo sublunar.”


O ponto de vista dominante tanto na magia grega, quanto na árabe e na judaica é de que era possível atrair para baixo as forças espirituais dos corpos celestiais.
Na Kabbalah do séc. XV a língua hebraica era ela própria uma técnica para puxar para baixo essas forças espirituais. Também, atribuía-se aos sefírotes poderes espirituais próprios. 
Dessarte, a estrutura astrológica foi trazida por projeção para a teosófica, mais elevada, tornando esse tipo de magia mais aceitável. Daí a expressão ruhaniut há-Sefirot, como força espiritual das Sefirot. Essa elevação do termo ruhaniut, antes com significação apenas de magia ao grau mais alto da pluralidade da divina essência, fez com que o modelo mágico-talismânico apresentasse distintos, o teológico, na realidade o plano teosófico suplantou o astrológico celestial, quando práticas mágicas deram lugar a ritos judaicos e, particularmente, ao uso ritualístico da língua hebraica. 
Embora o termo ruhaniut preservara traços de sua origem mágica, vai designar, doravante, domínio espiritual sem seus significados mágicos-astrais.
Para Cordovero, por exemplo, o sistema sefirótico vai definitivamente prestar-se como função instrumental para a realização da atividade mágica. 
Pode-se considerar que o cabalista sabia da semelhança, entre o tipo de Kabbalah que propunha, com as práticas mágicas pagãs. Além do que ele (de acordo com o que ensinava Cordovero) considerava o conhecimento da preparação de talismãs como uma gnose revelada, a servir mesmo ao conhecimento da Kabbalah.
Dessarte, a atividade cabalística era sobrenatural, não porque se intrometia nas ocorrências dos eventos, mas antes por que sua ordenação era de uma ordem superior.
Como tal, então, o corpo humano seria o lócus em que o divino influxo é recebido e torna-se um vaso de influxo descendente. O cabalista que se entregasse à prática da concentração e da pronunciação das cominações de letras era tido como um tipo de religioso justo.
Moshe Idel comenta assim:
Um importante desenvolvimento que se processa no pensamento de Cordovero com produndas repercussões ulteriores, é a visão do justo humano, o Tzadih, cuja maneira de funcionar lembra  a da nossa sefirá, Iesod, transmitindo o influxo que recebe das partes superiores para as inferiores nos reinos sefiróticos. Agora, o influxo é recebido do reino sefirótico, ao qual o Justo está apegado, e é transmitido aos outros homens.
A importância desses três modelos não só é notória para a compreensão de que venham a ser, mas por ajudarem ao entendimento mesmo do processus do pensamento cabalístico.
No estudo da Kabbalah é mister estar atento a todos detalhes por que é com eles que se pode ter uma noção completa dessa técnica inconsútil que é a Kabbalah, como cosmo-visão.


Ozam
Outubro/2011

domingo, 4 de setembro de 2011

COMENTANDO II


O Modelo Teúrgico-Teosófico

O mais conhecido dos modelos cabalísticos é teúrgico-teosófico. Por quê? Primeiro, porque se trata de um domínio de especulação que é tido como teosófico, e, por outro lado – e, isso é para se destacar – com a maneira como os feitos religiosos e humanos exerçam impacto sobre aquele campo que pode ser chamado de teúrgico (do grego theourgos – aquilo que trata do poder divino).

Para tal modelo, fundamental é a visão do reino divino, como constituído de uma série de dez fatores denominados de Sefirot (plural de Sefirah), já abordados alhures.

Sefirot são hipóstases divinas. Originalmente referiam-se a números (sêfer, com o radical hebraico das letras: samech (s), phe (f) e resh (r) sphr) místicos como desdobramentos do Infinito (Ein Sof). Trata-se de uma dinâmica onde o processo de interação entre esses poderes e eles próprios, assim como entre as atividades religiosas humanas e alguns desses poderes são a quintessência própria aos reinos divinos e humanos. Como as Sefirot formaram a essência divina, o reino divino aparece como um sistema complexo.

Cabalistas outros tomam as Sefirot como a divina presença no mundo, e há os que referem-nas como sendo poderes da alma humana.

Para Luria, o Leão de Safed, séc. XVI, todas essas configurações divinas nada mais são que naturezas antropomórficas evidentes, denominadas de PARTZVFIN (personalidades) que evidenciam a  principal estrutura de reino divino.

A TORÁ é também, concebida, enquanto símbolo, como representação da divina forma.

Um terceiro modelo teúrgico é central na Cabala Luriânica que se refere às centelhas espalhadas com a chevirah (quebradura) ha-Kelim.

O modelo teúrgico-teosófico de Safed (séc. XVI), acabaria como predominante e ele pressupõe que a linguagem reflete a estrutura interna do reino divino, o sistema sefirótico dos poderes divinos.

O rolo da TORÁ é um símbolo gráfico da forma divina, daí porque se supõe não tratar-se apenas de uma mensagem semântica da contemplação da maneira em que o texto foi dado, assim esse símbolo constitui uma representação fiel do inteiro mundo divino dentro da realidade inferior.
Outro tipo de símbolo: Jerusalém, concebida como o sítio unificado dos reinos mundano e divino, um locus onfálico a assumir a afinidade entre o nome e a entidade por ele designado.

Sem dúvidas, todo esse simbolismo é fundamentalmente um código para interpretar textos canônicos.

(continua)

Paz Plena. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

COMENTANDO


A preocupação de informar nos faz, às vezes, repetitivos. Mas nos escusamos sempre na justificativa de que nos move a intenção de sempre trazer mais luzes com outros novos enfoques.

Moshe Idel
Numa introdução que faz à Kabbalah, o especialista e exegeta MOSHE IDEL, uma das eminentes referências sobre o assunto, oferece-nos muitos subsídios esclarecedores para nossos estudos.  Dessarte, nos reporta ao fato de que, em suas formas bíblicas e rabínicas, o judaísmo é uma religião democrática e exotérica, que, no entanto, envolve dimensões místicas e significativas tendências esotéricas, entre as quais a Kabbalah é a mais encontradiça. Em na situando dentro do judaísmo, vai revelando aqui e acolá sua evolução através do espaço, lugares em que mais vicejara, e dos tempos quando se tornara mais influente.

Merece destaque a propriedade com que esclarece-nos, “Em geral, o ocultismo europeu assim como diversas formas de teosofia e franco-maçonaria européias foram substancialmente influenciadas pelo pensamento cabalístico. Após demonstrar a ligação de uma rica literatura oriunda da Kabbalah por mais de oito séculos, não unificada e com capitais divergências, revela três modelos mais importantes e explica que diversas espécies cabalísticas de literatura (...) concentraram seu foco ao menos em três modelos maiores: o mais importante, que proponho designar como teúrgico-teosófico, o outro secundário, estática e last but not last, o modelo mágico-talismânico.

É essa subdivisão que nos interessa mais imediatamente e consideramo-la como sintomática quanto às várias correntes cabalísticas que explicam as abordagens tão diversificadas para aqueles que tentam compreender a Kabbalah Válida para que os iniciantes não se deixem perder em suas buscas, e para que não lhes pareça mui dispersas essas ramificações e suas principais características, que estão longe de representarem uma linha unificada ou monocromática de pensamento que alegadamente muda no transcurso da história, como contingências que são do seu próprio desenvolvimento.

O próprio autor comenta que os cabalistas pretendiam que seus escritos constituíssem a antiga e oculta tradição judaica que continha a essência do judaísmo. Não obstante essa afirmação, as divergências conceituais entre as diversas escolas cabalísticas problematizam semelhante assunção. O impacto material antigo e medieval derivado de fontes não judaicas – basicamente fator de extração helenística, neoplatônica, hermética e neopitagórica – é significante e discernível em todos os tipos de Cabala como é o caso da filosofia, gramática, literatura e ciência medieval judaicos. A maioria dessas fontes foi mediada, modificada, e enriquecida por autores muçulmanos. Contudo, em acréscimo, a contribuição desses tipos especulativos de material, cabalistas da Idade Média,  também,  desenvolveram alguns modos de pensamentos encontrados em espécies mais antigas de literatura escrita, como a rabínica e as de caráter mágico (...)

Isso serve na contraposição a certas preconceituosas e malévolas opiniões de que a Kabbalah é concepção fechada e de exclusão, ligada tão somente a uma tradição sectária e hermética.

- Voltaremos ao assunto para tratar dos três modelos mencionados. –

(As citações são excertos da obra: Cabala, Cabalismo e Cabalistas. Ed. Perspectiva)