DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Caridade e solidariedade


Você e o outro.

Amai ao próximo como deveis vos amar.

Em decorrência de nossa mais recente postagem, “confrontos e conflitos”, recebemos de nossos leitores e companheiros, reflexões mui curiosas e procedentes, entre as quais a preocupação com a caridade e a solidariedade, e da compatibilidade entre elas.
Para o modo de pensar analítico que não leva em conta a interação de características, já que é dual e não polar, e, portanto bem diferente do pensar analógico, elas não se interagem. Para o pensar analógico caridade e solidariedade são complementares, já que em toda caridade há solidariedade, e a recíproca é verdadeira. Ainda que possa ocorrer com a solidariedade algum desvio, há nela muito de caridade. Se a solidariedade às vezes aparece envolvida com alguma influência da vida material e, como tal ou por isso mesmo, deixa-se contaminar por vibrações mais interesseiras de vaidades e poderes, a caridade é puramente da ação, por ser espiritual. A solidariedade é não raro uma participação condicionada por certos interesses, posto que se trata de mera ação psíquica, função da mente concreta, hodiana, prática e imediata. 
Só na espiritualidade a dação é plena, na vida social a competitividade macula as intenções no interesse da sobrevivência, do ganho e do poder, quanto mais numa sociedade de consumo, quando então perde um pouco da sua autenticidade e pureza. É ai que se dá o que chamamos de segundas intenções. Mesmo que se possa justificá-las, interferem na espontaneidade da ação. Mas, senão são a mesma coisa, são, no entanto, complementares. 
A caridade é da alma, a solidariedade é um aprendizado da humanidade através da história. Viver é um eterno aprender. Na observância da mecânica da Árvore Sefirótica vamos aprender que oposições não são contrários absolutos. Assim é que geburah restringe e limita a força de expansão de hesed, mas lhe dá forma. O mesmo ocorre com nezah (criatividade) e hod. É hod que formula as ideias de nezad, para que yesod possa filtrá-las ao passá-las para malkhut, a esfera das formas finais, a revelarem a manifestação, dando o aspecto definitivo a tudo que existe neste mundo. A grande lição da ÁRVORE é que o sefirot são pares complementares e que não se deve nem se pode compreendê-los como antagônicos, e sim com a reciprocidade que os faz interagirem-se. Daí a dialética cabalística ser tão orgânica e natural.
É pela ÁRVORE também que se explica nesta numerologia a imanência dos feitos e fatos, já que números são funções cósmicas e evidenciadas pelas letras do aleph – Beit. As consoantes hebraicas e numéricas é que vão servir para a determinação de conceitos, arquétipos e ocorrências, a que se propõe a numerologia.
Diz o ZOHAR um dos textos fundamentais da Kabbalah: “pois, quando o mundo foi criado, foram as letras celestiais que deram início a todos os mecanismos do mundo inferior, literalmente segundo o seu padrão”.
E o grande cabalista, um dos fundadores da corrente dos hassidins, BAAL SHEM TOV, assim se expressou sobre os mistérios do aleph- Beit: “entre em cada letra com toda sua força, Deus habita cada letra e, ao entrar, você se une a Deus”. E o profeta Isaías aconselhava: “Pede para ti ao Senhor teu Deus um sinal (uma letra) pede-o ou embaixo nas profundezas, ou em cima nas alturas”. (IS. 7: 11)
Cumpre-nos repetir o que temos sempre afirmado: - se a Kabbalah é o caminho, a Árvore das Vidas é o mapa.
Em tomando, com efeito, a caridade como propósito da alma, ela revela um manifestação de amor e comiseração enquanto a solidariedade é tão só uma postura de aprendizado do homem. Aprender a viver é por os ensinamentos em prática, o que é útil, sábio, e proveitoso. E se não nos move o amor, ao menos nos movera respeitar a dignidade do outro, que é o que tem faltado nas relações humanas. Tomara que consigamos mudar este comportamento. Isto é o quê a solidariedade nos enseja. E queira a Deus sejamos bem sucedidos nesta intrépida audácia!

Paz plena
Ozam.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Encontros e confrontos


A História infelizmente registra que quase sempre encontros tornaram-se logo em confrontos, isso no diz respeito sobretudo as culturas e, ou as ideias. Na Arvore Sefirótica aprendemos, no entanto, que encontros podem e devem tornar-se oportunidades para mudanças positivas e transformações auspiciosas no sentido de partilha, ou de interações recíprocas. Por quê? Talvez tenha faltado nesses encontros que viraram confrontos, tanto a compaixão quanto a benevolência, sem as quais não se pode aproveitar a força e o enriquecimento enrustidos nesses encontros. 
Na Árvore observamos que a não – séfira DAAT, resultante de vetores de força de HOCHMAH (sabedoria, ABA) e de BINAH (entendimento, IMA) significa, Conhecimento, Paz e Filho, enquanto que tudo se dá na coluna intermediária do equilíbrio, ou da Fundição que é também, e por isso mesmo, tida como das Graças e da Clemência. Qualquer outra adjetivação torna-se pleosnática e inócua, pois Graça e Clemência dão a esta coluna a sua verdadeira significação. No triângulo d’Alma é Tiferet o lugar da conciliação dos eflúvios de Hesed com as de Geburah, daí ser denominado de Harmonia e Beleza. 
O Hieróglifo da Árvore, que é um grifo hierático explica melhor que tudo como funciona a compaixão e como sua força está para transformar todo encontro em comunhão, interação e participação como devêramos assim agir na vida. Partilha e interação são somas, adição, complementariedades, que só se pode obter pela benevolência e pelo amor, sem ego. No drama histórico não observamos senão egoísmos, malevolência, e nenhum traço por mais insignificante fora de compaixão. Tanto no que se refere a encontros culturais quanta à troca de costumes, hábitos, e de valores intelectuais, todos em geral exacerbados por orgulhos e vaidades, que nada valem, mas, que são, mesmo assim, portadores dos venenos da malevolência, do egoísmo e da esterilidade particularíssima e idiossincrásica de valores egóicos e individualizados .
A kabbalah que é o mais importante acervo da Sabedoria do Ocidente sempre soube assimilar a experiência de outras culturas e se enriqueceu nas diásporas do judaísmo.
Nilton Bonder em sua obra “Segundas Intenções” reconhece este ensinamento e cita: “Quando uma pessoa pensa em fazer algo perverso não deve ser imputada a essa pessoa a intenção até que o faça. Mas, se deseja fazer algo gentil, e por alguma razão acaba não realizando, deve-se considerar como se estivesse feito. (Salmos 30, & 4 , In: BONDER, p.61). E logo adiante, adverte: “ Toda vez que nas relações humanas houver assimetria, a malícia nos preencherá de segundas intenções. Essas assimetrias nos levam a convocar a justiça, que é um nível ainda mais profundo de manifestação de segundas intenções”.
Estados modernos, esses Leviatãs do Absurdo, são cheios de segundas intenções. E perdem oportunidades de se tornarem mais ricos com o que poderiam vir a conhecer a própria experiência desses outros povos de culturas tão distintas com que se encontram e se conflitam.
Em recente obra já encontrada no mercado, o mestre espiritual e líder político, Sua Santidade Dalai Lama, faz judiciosas observações da “Prática da Benevolência e da Compaixão”. Aconselho que leiam. O mestre em apreço dispensa apresentações, mas, seus enfoques são de uma importância para tomarmos posição a respeito do tema. Um tema importante que vai desde nossos primeiros contatos com o diferente até escândalos dos pré-conceitos e das exclusões, plenas de segundas intenções: o petróleo. Em nossa experiência existencial temos de avaliar que nossas pequenas atitudes de pura vaidade e soberba, podem tornar-se o combustível moral que justifica, por falta de compaixão, os desvarios políticos dos impérios que nos subjugam. Diz Bonder: “Essas assimetrias (de que falamos na citação acima) nos levam a convocar a justiça que é um nível ainda mais profundo de manipulação de segundas intenções. Novamente teremos que identificar o invisível para desmascarar o impulso moral. O Eu tratará de convocar seus amigos a ouvir suas razões. E eles serão muitos, porque, o território das segundas intenções é cheio de justificativas”. (p.61)
“O erro dos Estados é resultante óbvia da malevolência acumulada de seus cidadãos. Não se conhece história de Impérios em que seus cidadãos não fossem o que foram”.
As intenções são manipulações que demonstram os ardis do Ego, quer seja ego pessoal, quer seja nacional. Ego é sempre ardiloso. Quer seja pessoal, quer seja nacional tem de ser contido e alinhado. Tão forte que não se deve senão encaminhá-lo e retificá-lo.

Paz Plena !

Ozampin