DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.

sábado, 24 de setembro de 2011

TÓPICOS À PALESTRA SOBRE: KABBALAH E CONSCIÊNCIA NOVAS ABORDAGENS


Alguns enunciados básicos para compreensão do que chamamos de anterioridade do pensamento cabalístico às mais recentes teorias sobre o conceito de Consciência.
Se a consciência é essência da Divindade e porque pode ser entendida como a Luz que desde sempre preenchera o VAZIO (ou o NADA na nossa linguagem) o EIN, o começo sem fim, que existia, ou que inexistia antes da Existência propriamente tida como realidade.
O próprio TZIMTZUM, a retração da LUZ DIVINA para que a Existência se desse, reporta-nos a isso. Pois tudo era a NÃO-EXISTÊNCIA, o EIN, que vai se tornar o EIN-SOF, o INFINITO, equivaleria à TOMADA DE CONSCIÊNCIA daquela Consciência Inata - a LUZ primordial, que vai se projetar nas trevas da retração como EIN SOF AUER. Todo ESSE MOVIMENTO QUE SE DÁ NA LUZ DA DIVINDADE, deveras, é Consciência, se a tomamos como Luz.
Portanto, bem antes que a Consciência fosse, como viria a ser tratada após a segunda metade do séc. XX, tudo isso já era assunto da Kabbalah, há mais de 3000 anos. Foi, no entanto, só a partir de então, em virtude do desenvolvimento de correntes humanísticas que a psicologia como disciplina começaria a deixar de ser caudal da filosofia dominante, sobremodo daquelas concepções cartesianas e das da mecânica reducionista, crescendo para novas áreas até então negligenciadas, ou, até mesmo desprezadas, mercê dos preconceitos vigentes, tais como as de experiências místicas, de estados extáticos, de estudos meditativos, da transcendência, etc., etc.
Jung já enfatizara o inconsciente e sua dinâmica; enquanto que para ele a psique era simples interação complementar entre os elementos inconscientes e conscientes, para Freud ainda prisioneiro de seus pudores cientificistas do iluminismo em voga, tomasse o inconsciente como depósito psicológico de ocorrências instintivas rejeitadas, ou de memórias reprimidas e/ou de recalques subconscientes. Para Jung o inconsciente viria adquirir um novo significado com funções projetivas teleológicas. Assim, já liberta a psicologia das idéias de máquina cartesiana e partindo do SELF, como fato capaz de transcender as limitações próprias do Ego e do inconsciente pessoal viria acessar horizontes mais amplos, tais como o cosmos. Outrossim, a libido já não seria apenas uma força estritamente tida como de mera descarga mecânica, antes como força criativa da natureza sujeita às influências cósmicas. Essa perspectiva transpessoal libertaria a nova ciência de seus liames deterministas-mecanicistas a torná-Ia em novo instrumento de pesquisas da natureza essencial do Ser. Por exemplo, para Stanislau Grof as experiências transpessoais envolveriam a expansão de consciências para além das fronteiras habituais do ego e, portanto, para além das limitações de tempo e espaço.
Por volta de 1960 a psicologia humanista não mais restringir-se-ia às patologias, ao contrário, preocupar-se-ia com outras potencialidades do ser humano e com a sua saúde.
Abraham Maslov assinalaria para outras possibilidades capazes de ultrapassarem a auto realização, quando o indivíduo transcende os limites da própria identidade e da experiência. Daí em diante experiências descortinariam o vasto campo de expansão da consciência e das alterações de seus estados.
No dizer de Omstein (OMSTEIN, R. THE PSYCHOLOGY OF CONSCIOURNESS) a psicologia é primariamente a ciência daconsciência.
Que radical mudança. Um novo paradigma! As experiências místicas e as do êxtase só agora admitidas pelo ESTABLlSHMENT foram, no entanto, fundamentais nas Tradições de Sabedoria, qual a Kabbalah, o Hinduísmo e o Budismo.
Na Kabbalah desde o séc. XIII, Abulafia praticava a técnica do êxtase e já havia criado um escola que se estenderia por mais de cinco séculos de atuação, com meditação e êxtase através das letras do Aleph-Beit e do Tetragrama, o TESEROUF. Tão marcante foram as experiências de êxtases na Kabbalah que por volta do séc. XV e XVI troncos importantes do pensamento cabalístico dariam origem à Kabbalah Extática.
Com tais aberturas o desenvolvimento dos espectros de Consciência no que diz respeito ao Conhecimento Humano tornou-se evidente.
  
Os Níveis do Espectro da Consciência

Toda evolução do Espectro da Consciência é uma expansão da identidade, da persona para o Ego ou do organismo para o cosmos; ou seja, sempre de uma progressiva desindentificação, (ou de progressivo desapego) de todas aquelas identificações exclusivas.
Ram Dass
Ram Dass diz que: Crescemos com um plano de existência que chamamos de real. Identificamo-nos por inteiro com essa realidade, que temos por absoluta, e descartamos as experiências incompatíveis com ela [... o que Eistein demonstrou na física, se aplica a todos os outros aspectos do cosmos: toda realidade é relativa. Cada realidade só é verdadeira no âmbito de determinados limites, não passa de uma versão possível do que as coisas são. Há sempre múltiplas versões da realidade. Despertarde uma realidade é reconhecer sua realidade relativa.
E falando de um nível básico de consciência, na sua obra sobre as Estruturas Básicas da Consciência o notável estudioso do assunto, Ken Wilber, diz: As estruturas básicas da consciência são, na realidade, aquilo que é conhecido como a Grande Cadeia do Ser.
Desde aí a psicologia, que havia deixado de ser a "biografia" do Ego, passa a tratar da Consciência, agora, referência ao cosmos, ou seja, ao cosmos do Ser. E ela explica que se algumas versões dessa Grande Cadeia falam só de dois níveis básicos, apenas matéria e espírito (lembramos que esta era a concepção egípcia do Templo há 6000 anos atrás) outras há de três (matéria, mente e espírito), outras, ainda que demonstrem que seriam de quatro ou cinco (matéria, corpo, mente, alma e espírito).
Assim os modelos estruturais de Freud, Jung, Piaget, Arieti, Werner, etc, puderam ser cotejados com modelos estruturais nos sistemas psicológicos das tradições contemplativas anteriores (MAHAYANA, VEDANTA, SUFI, KABBALAH, PLATONISMO, MISTICISMO CRISTÃO, AUROBINDO, etc.).
Apresentamos a tabela I das correlações, que o autor, Ken Wilber, oferece à pg. 20 de sua obra: "Transformações da Consciência", 1999, Cultrix, São Paulo.


TABELA 1
CORRELAÇÃO ENTRE AS ESTRUTURAS BÁSICAS DE CONSCIÊNCIAS EM QUATRO SISTEMAS

ESTRUTURAS BÁSICAS
AUROBINDO
MAHAYANA
CHAKRASYOUGUES
CABALA
Sensorifísico
Subconsciente físico

1 . Mundo físico e instintos. Fome e sede.
Malkuth
Fantasmagórico-emocional
Vital-emocional
5vijnanas (os 5 sentidos)
2. Nível emocional-sexual
Yesod
Mente-rep
Mente-vontade (conceitos inferiores, df “preop”)

3. Mente intencional, poder

Mente
Regra papel
Mente-sentidos (uma mente baseada no concreto; Cf “conop”)
Manovijnana (a mente reflexiva concreta, coordena os sentidos).
4. Mente-comunitária, amor
Hod/Netzach
Mente formal-reflexiva
Mente do raciocínio (não beseada no concreto, df “formop”)

5. Mente racional-verbal. Comunicação
Tiphareth
Visão-lógica
Mente-superior (massa-rede, Ideação visão)
Manas (a mente superior; condutora entre a mente individual e alava-vijnana ou mente coletiva).

Psíquica
Mente iluminada

6. Ajna; “terceiro olho”. Cognições psíquicas
Sutil
Mente intuitiva
Tained-alavavijnana (mente coletivo-arquetípica. Vasanas-seminais).
7. Sahasrara; coroa, início dos “chakras” superiores além e dentro de sahasrara
Geburah/Chesed
BinahChokmah
Causal
Mente superior
Alava Pura
ShivaParamatman
Kether
Último
Supermente


E repetimos com COOMARASWA Y: Mas o que está provado pelas analogias não é a influência de um sistema de pensamento sobre outro, mas a coerência da tradição metafísica do mundo em todos os tempos. Ou com R. A. SCHWALLER DE LUBICZ:
O Universo nada mais é que consciência, e em todas as suas manifestações revela mais que uma evolução da consciência da origem ao fim. Para fecharmos, observemos as velhas instruções do ZOHAR (111, 289 b a 290a). Tudo está ligado a unidade num mesmo todo [...] ao ponto que se torna fácil de ver TUDO É UM. O Eterno é um sem segundo.
Doravante, saindo daquelas teorias insignificantes e pontuais que reduziam o homem e, por consequência, o universo a uma máquina, compreendemos que o Ser é uma unidade, e que toda unidade é uma força TRIPLA, com manifestação dual, como já ensinava o Templo Egípcio; ou seja, Deus, Homem e Universo. (Consciência, Alma, Corpo).
São lembretes que precisamos ter em mente a fim de não perdermos o fio da meada, já que, desde tempos primevos, sabiam as tradições místicas o que era a Consciência e, se lapsos houve dessa Sabedoria, devêmo-Ios ao reducionismo racionalista da filosofia grega, só compreendida literalmente pelos seus acólitos, história afora.

Paz Plena.

Ozâmpin Olafajé

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