DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

LUMINOSIDADES

ABRAHAM JOSHUA HESCHEL (1907/72) é uma das figuras mais admiráveis da filosofia e do ativismo engajado do séc. XX. Merece menção em sua obra a  preocupação permanente de ser uma fonte de inspiração para um reencontro com D’us e com o Sagrado através de sua religiosidade. Para o filósofo, nenhuma religião é uma ilha.
“Deus, ao se revelar, não revela sua essência, que é inefável, mas, sim sua mensagem que exprime seu compromisso com a existência humana.”
Em seu excelente estudo sobre a filosofia de Heschel, a autora Gloria Hazan assinala aspectos importantes do seu pensamento: - o apelo profético, na concepção de Heschel, pretende (observar como isso é fundamental ao ratificar o pensamento cabalístico sobre a destinação humana, tantas vezes, por nós, reiterada), que o homem alcance a superação da situação humana por intermédio da ação no mundo, que o torna parceiro de Deus na criação do universo, portanto, criador do próprio humano de si mesmo.

Para Heschel, esse homem moderno, esquecido de sua “imagem” divina tem muita dificuldade de encontrar o sentido correto para a sua própria existência. Daí vitimar-se de toda uma literatura inócua e improfícua, porque sem consistência real a tentar alentá-lo nessa sua tragédia de ter perdido sua referência, seu elo. Por isso, ele cria símbolos aos quais vai se escravizar, alienando-se de seu próprio e inerente sentido.

Heschel propõe que no cerne dessa “fetichezação” que lhe oferece tão só a satisfação daquelas necessidades imediatas, possa o homem descobrir-se a sim mesmo como uma necessidade iminente. É, pois, voltando-se à ética talmúdica, que prega: em uma sociedade democrática alguns são culpados, todos são responsáveis. Quando o homem deve estar atento, comprometido e preocupado com o outro ser humano.

A ética hescheliana suscita-nos graves reflexões. Como se deve (ou se pode) agir numa sociedade com suas instituições viciosas capazes só de gerar políticas senão criminosas ao menos perversas, bloqueando no cidadão toda a sua capacidade de agir conforme a sua consciência, honestamente preocupada, com o outro?

São reflexões que se nos impõe, porque como ficaremos “culpados ou responsáveis”, se vítimas, também, de um Estado degradante, totalitário e, absolutamente, sem valores humanistas.

- Continuaremos –
Falando da ética de Heschel.

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