DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

COMENTÁRIOS DE BAAL SHEM TOV

Reportando-se à Michná 14, em que Hilel exclamara: Se eu não sou por mim, quem será por mim? E se eu for só por mim, quem sou eu? E senão for agora, quando será? Da sua obra Testament hassidique, Ed. Bibliophane Daniel Radford, Paris, 2004 (pg. 43), extraímos este comentário de Baal Shem Tov:

Por que na hora da prece deve o homem abstrair-se de toda a sua materialidade e não deve nem tomar conhecimento de sua realidade nesse mundo? O que quer dizer, se eu me elevar a tal grau onde não saberei de mais nada, nem mesmo perceberei se eu não for por mim, então, seguramente, não temerei por pensamentos aleatórios, pois já não me acometerão, se meu “eu” se foi desse mundo. E isso (que expressa a Michná): quem será por mim? (no sentido de que eu já estou fora de mim, quem poderá me possuir?) que pensamentos poderão, doravante, inquietar-me? Mas, se eu for só por mim, isto é, se eu me julgar em termos de entidade e de ego, na realidade que tal desse mundo, então, evidentemente, não posso ser tido como nada (e, em tomando consciência de mim) tornarei a questionar-me: quem sou eu? Por outro lado, como pessoa e pelo que faço, como hei de aparecer diante de Deus? Pois, então, os pensamentos aleatórios suscitarão minha confusão, e por isso, ausente de um mundo em que o homem não veio senão para agir espiritualmente, eu já não serei capaz de servir a Deus.

N.B.:  A tradução a qual procedemos de pensamentos “estranhos” por “aleatórios” pouca diferença faz, já que para o hassidismo eles se referem, de fato, a dúvidas, a incertezas, a medos, e por fantasmas que se interpõe na trajetória dalma na sua busca de Deus; o que ocorre notadamente na hora em que se reza.

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