DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

UM VELHO E CANSATIVO TEMA ...

Alterismo pode até vir a ser tido como um tremendo neologismo, mas, insistimos em defini-lo como aquele esforço de que é capaz uma criatura de ter de se sentir como se fosse a outra, de ter de vivenciar a outra.
Diferente de alteridade (do latim alter + dade) um estado ou qualidade do que é o outro, diferente, distinto. Também não deve ser tomado como altruísmo, contrário de egoísmo. O alterismo é a experiência de ser aqueloutro, vivenciar aquela alteridade do outro. Não basta entender o outro, mas sê-lo. Assim, alterismo é salto quântico: além do ego ! Às vezes, tão necessário no trato com o próximo: é amá-lo como se ama a si próprio, literalmente. Quando amar é mais que tentar aceitar o outro... é ser, de fato, o outro.
Como seria bom que o experimentassem essas partes que discutem o velho tema: “da existência, ou não, de Deus”, nos nossos dias e, modernamente, teatralizado por “criacionistas” – intérpretes literais e lineares dos textos bíblicos – e, do outro lado, por “cientificistas” – intérpretes reducionistas (na expressão rigorosa do termo) do pensamento científico; entricheirados em suas “sagradas verdades”, nem se ouvem nem se escutam. Falta-lhes critérios e conceitos, sim; mas o que mais lhes falta é o “desejo de receber” e o “desejo de dar”, ... ratsón lecabel e ratsón lehashpía, ou até mesmo lhes falta boa dose de humildade!
Ora, D’us é o que não é, muito embora envolva e permeie a existência como tal; enquanto isso falam do que supõem-No seja; ou até mesmo do que gostariam que fosse; ou, do que acreditam, ou não, pudera ser...
Aryeh Kaplan, de saudosa memória, em sua obra “Meditação Judaica” cita Baal Shem Too, inigualável mestre, na sua maneira de explicar coisas simples, com rara simplicidade – e nada é mais simples do que a idéia do Um (Echád):  - Há duas maneiras de conhecermos Deus. Primeiro, nós O conhecemos por que ouvimos outros falarem d’Ele, e porque herdamos uma tradição a respeito d’Ele, por meio de nossos pais, de nossos ancestrais, por intermédio de todos os sábios do passado.
Contudo, isso não é suficiente. Não importa o número de vezes que tenhamos ouvido falar de Deus, cada um de nós também deve ter sua própria experiência d’Ele. Só quando temos uma experiência por nós mesmo é que podemos ter uma idéia verdadeira de que Deus é. De certa forma, é como o amor. Apenas quando conhecemos o amor, sabemos o que ele significa, aquilo de que alguém nos falou; caso contrário, as palavras nos soarão totalmente abstratas. Podemos imaginar que o amor é algo muito agradável mas se nunca o tivermos experimentado, mesmo que leiamos o que dizem os poetas, só conseguiremos entendê-lo de modo abstrato. Contudo, se alguma vez você já amou alguém, a palavra passa a ter ressonâncias muito intensas aos olhos e ouvidos.
Como se pode concluir: se não provaram do amor como podem saber de D’us? Pobres de espírito ! é tudo vaidade e exibição. Gosto mórbido do escândalo: Vanitas vanitatum, et omnia vanitas !
Paz Plena, Ozâmpin. *
Floripa, fevereiro 2011.


Indicação de leitura:
O ZOHAR – O LIVRO DO ESPLENDOR – passagens selecionadas pelo rabino Ariel Bension (1880-1932). Polar, SP 2006.
Pgs: 81-87 – Revelação do Mistério da Existência de Deus, onde se colhe sentenças fundamentais para que se comece certas reflexões sobre a natureza da Existência de Deus conforme a concepção cabalista: - por ex:  Antes que qualquer forma tivesse sido criada, Deus estava só, sem forma e semelhante a nada.

 

2 comentários:

  1. Quero parabenizá-lo pelo blog, pois é uma honra acompanhar alguém com tanta sabedoria e paixão pelo conhecimento. Confesso que bateu uma saudade dos nossos cursos em Florianópolis. Hoje sou Psicóloga e Psicopedagoga, mas confesso que jamais esquecerei o aprendizado da KABBALAH. Sou eternamente grata ao Senhor.Paz Plena.
    Francielle Hartmann Timbó/SC

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  2. O mal existe, mas nunca sem o bem, tal como a sombra existe, mas jamais sem luz. (Alfred de Musset)

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