DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

2011 – 13º ANO DO 3º MILÊNIO

2011 – 13º ANO DO 3º MILÊNIO
REGIDO PELA LETRA MEM (hebraica) E 13º ARCANO – A MORTE

GEN – 1:26 – Façamos o homem a nossa imagem e, semelhança...

            A letra MEM significa água, águas primordiais, águas das vidas, de nascimentos, de florescências, de pureza. Oxalá, pudéramos celebrar esta festa!
            GEN 1-6: Disse também D’us: Faça-se o firmamento no meio das águas, e separe umas águas das outras águas.
            Águas são além de fonte de vidas, meios de purificação e forças de regenerecência.
            Nos Tarôs ocidentais o Arcano XIII, MEM, é tido pelos tarólogos como indicativo de mudanças e transformações, todavia, no Egípcio, mais fiel àquela ancestral Sabedoria, é chamado de “A Imortalidade” e não, de “A Morte”. Ora, como bem pode-se notar, conceitos embora analogicamente próximos são contrários entre si. “A Morte” é sempre um fim, no entanto, a Imortalidade é a continuidade, a perenidade, a permanência. Enquanto que a morte para a nossa cultura reducionista e pragmática representa o fim, para a Sabedoria dos Templos do Antigo Egito era a “morte” aquela oportunidade para que as almas, então reunidas, no desencarne, pelas polaridades masculina e feminina pudessem participar da glória de Sair ao Mundo da Luz. Eia, pois, que celebravam a VIDA, na plenitude da LUZ. Pequenos detalhes separam concepções distintas entre civilizações. Para a KABBALAH a Vida é uma totalidade. Em sua essência é uma e única. Mas na sua manifestação temporal (com nascimentos/mortes, mudanças de estado mineral, vegetal, animal e humano falante) é múltipla de formas. Por isso, vida em hebraico é sempre plural: chaim.
            Como se vê egípcios e hebreus acreditavam na metempsicose, nome que gregos entre atônitos e estupefatos deram a essas crenças! Infelizmente estamos muito mais para gregos que para egípcios! Que pena!...
            Não raro, contudo, soam solitárias raras vozes discordantes, como a de Harold Bloom, um dos mais significativo crítico literário de nosso mundo atual, quando declara que a morte não passa de uma idéia. Sim, diz ele, a morte é uma idéia. O ato de morrer é diferente. É algo que vamos experimentar. Distinção válida e sutil. O ato de morrer é uma ocorrência meramente material, nada além de mera ocorrência espacial, a se dar em uma das dimensões do “multiverso”...
            A propósito diz HESCHEL, filósofo judeu de nossos tempos: A Eternidade não começa quando o tempo chega ao fim. Tempo é eternidade partida em espaço, como um raio de luz refrangido na água.
            O homem primitivo, aquele que nossa ignorância chama de bárbaro, bem mais natural que nós outros civilizados (sic!) sempre entendeu melhor essa experiência (trasitória) de morrer. Talvez apenas porque em apreciando tudo que se passava em seu derredor costumava erguer os olhos para o Céu... O profeta Isaías já nô-lo ensinava: Levantai os olhos para o alto e considerai quem criou tudo isso. (Isaías XL, 26).
            O estudioso de religiões e de civilizações, Mircea Eliade dizia que para essa criatura natural, por ele denominada de homo religiosus, o espaço não é homogêneo, apresenta roturas, quebras; há porções de espaço qualitativo diferente dos outros, conforme aprendemos nesta passagem de Êxodos 3-5. Não te aproximes daqui, diz o Senhor a Moisés, descalça as sandálias, por que o lugar onde te encontras é uma terra sagrada. Diz o autor citado que o que vai caracterizar o pensamento dessas sociedades tradicionais é essa oposição limite entre território habitado e o espaço desconhecido e indeterminado que o cerca, quando o primeiro é o nosso mundo, o nosso universo, e, o outro, uma espécie de um outro espaço diferente, caótico, povoado de outras criaturas... Esse conhecimento de espaços distintos é de importância fundamental para explicar as características do pensamento do homo religiosus das do profano.
            No entanto, não só o conceito de espaço, o de tempo, também, é distinto. Porque para o primeiro a Natureza nunca é exclusivamente natural, ela mesma está sempre carregada de um certo valor misterioso já que o Cosmos é uma criação divina e, portanto, há-de-ser todo impregnado dessa sacralidade. Para esse homem primitivo, o sobrenatural é inseparável do natural. Tanto quanto a humanidade e a Natureza são similares: ― A superioridade do homem sobre o mundo animal é nula, já que tudo é futilidade, exceto Neshamah (a alma humana). (Eclesiastes 3:19). A concepção do espaço não homogêneo fez, também, que esse homem primitivo tomasse o seu Cosmos – o seu centro, assim como o seu corpo, o seu coração, analogicamente o seu Ser em si ― como o seu próprio Universo, o seu Templo, a sua Casa (Beit), e que, então, esse “seu espaço”, conhecido, pudesse comunicar-se com aqueloutro espaço desconhecido (daí chamar-se de “multiverso”, todo esse conjunto) através sempre de uma possível abertura (posto que os “multiversos” são comunicáveis e se interagem). Este “simbolismo” que revela a possibilidade de uma passagem de um mundo a outro e que bem pode retratar, também, a de uma situação existencial a outra equivale, obviamente, à “passagem” de um modo de ser a outro, (muito difícil de ser apreendido por essa nossa mente linear, ou abstrusamente euclidiana) mas que vem claramente explicitada quando se entende o significado do alfabeto sagrado, o hebraico, conforme se observa no seu estudo, Provérbios, 24:3: Com Sabedoria (Hochmah) se constrói uma casa, e com compreensão (Binah) ela se firma e com conhecimento (Daat) enchem-se os quartos; que nos remete à explicação do Livro da Iluminação (BAHIR), quando demonstrando o secreto aspecto das maravilhas (othot) que são as letras. 14 – Por que a letra (Bet) é fechada em todos os lados e aberta na frente? Ensina que é a Casa (Beit) do mundo. Deus é o lugar do mundo e o mundo não é o seu lugar. Ainda citando o Bahir, esse livro básico da Kabbalah: 17 – O rabino Amorai sentou-se e explicou: Por que a letra Aleph está no princípio? Porque está antes de tudo, até mesmo da Torá? 18 – Porque Bet segue? Porque estava em primeiro.
            Por que possui uma cauda? Para apontar o lugar de onde veio: Dali o mundo é mantido, dizem alguns. (os grifos são nossos).
            Nessa linguagem simbólica do BAHIR transparece toda uma concepção cosmogônica dos “universos paralelos” dos quais a Kabbalah já tratava há mais de 3000 anos atrás..., “os multiversos”.
            Quando o presente é apenas a interface do passado e do futuro há-de-se entendê-lo, tal a impermanência da existência, como mero acaso temporal, sendo o espaço um lapso circunstancial e, absolutamente, não homogêneo, perpassado pelo tempo.
            Em observando a Natureza, em olhando para o Céu o homo religiosus deu-se conta dos mistérios (que o tolo hodierno confunde com segredos), pois quase nada que se vê nos céus (espaço) existe no presente (tempo), no entanto, ainda figuram lá astros tais que emocionam namorados apaixonados!!! Ensinam os cosmólogos que na sua infância o Cosmos tinha uma tabela periódica bem mais simples, com poucos elementos.
            Em aceitando os mistérios e em se apercebendo do fenomênico aquele homem primitivo pôde, por analogia, inferir que a morte não passava de uma ocorrência...e que tudo nos cosmos são apenas eventos... O mestre HESCHEL diz que a vida da religião é dada em eventos e em insights algo que acontece no tempo, e ratifica esclarecendo: a religião está arraizada numa tradição particular, ou num insight pessoal, enquanto a filosofia clássica diz ter suas raízes em premissas universais...Por outro lado o interesse da teoria científica é a causa, a categoria de causalidade e o relacionamento entre causa e efeito, aspectos de um processo contínuo, com partes mutáveis de um todo imutável. Assim define bem aqueles postulados que separam os religiosos dos filosóficos e dos científicos, permitindo-nos melhor avaliar o homo religiosus. Para ele, a própria Criação seria um evento: A Bíblia concebe um relacionamento do Criador com o universo como um relacionamento entre duas entidades essencialmente diferentes e comparáveis e encara a própria Criação como um evento mais do que um processo: Criação, pois, é uma idéia que transcende a causalidade. Apenas um parênteses: (por acaso, nesta sua explicação, esclarece-se, também, a enorme confusão do pensamento hodierno quando “filósofos” “da auto-ajuda” omitem a ação do Criador, propositadamente, por respeito humano e/ou vergonha, confundindo o Universo com D’us!)
            Glória Hazan, autora da obra “Filosofia do judaísmo em Abraham Joshua Heschel”, comenta que Heschel considera a história sagrada como um evento que  sempre nos fascina (...) e que pode ser descrito como uma tentativa de superar a linha divsória entre o passado e o presente. (o grifo é nosso).
            Todas essas especulações escatológicas corraboram o significado de “A Imortalidade” do Arcano XIII e se tornam imperiosas para que, em refletindo sobre o seu simbolismo possamos inferir, ao menos no transcurso dessa efeméride de entrada do Novo Ano, de que somos imortais, posto que feitos à imagem e, a semelhança... do Eterno, cujo próprio nome revelado à Moisés é EHEYEH, (SEREI)..., o futuro é Infinito...
            Na orelha do livro já citado de Glória Hazan o emérito professor Franklin Leopoldo e Silva esclarece que a experiência do Cosmos é a própria experiência humana e escreve: a experiência religiosa é a dimensão sagrada da existência e o que lhe confere dignidade, assim como tal, a experiência de Deus é humana e a experiência humana é divina.
            Que no 13º ANO do 3º Milênio possamos “clarear nossas idéias” e nossas práticas com as águas purificadoras de MEM: e haja águas para decantarem nossos turvos princípios e que MEM aporte-nos as forças que precisamos para a regenerecência de nossas vidas!

Assim seja!

Paz Plena!

FELIZ ANO NOVO!

Ozâmpin Olafajé

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