Alguns
enunciados básicos para compreensão do que chamamos de anterioridade do
pensamento cabalístico às mais recentes teorias sobre o conceito de
Consciência.
Se a
consciência é essência da Divindade e porque pode ser entendida como a Luz que
desde sempre preenchera o VAZIO (ou o NADA na nossa linguagem) o EIN, o começo
sem fim, que existia, ou que inexistia antes da Existência propriamente tida
como realidade.
O próprio
TZIMTZUM, a retração da LUZ DIVINA para que a Existência se desse, reporta-nos
a isso. Pois tudo era a NÃO-EXISTÊNCIA, o EIN, que vai se tornar o EIN-SOF, o
INFINITO, equivaleria à TOMADA DE CONSCIÊNCIA daquela Consciência Inata - a LUZ
primordial, que vai se projetar nas trevas da retração como EIN SOF AUER. Todo
ESSE MOVIMENTO QUE SE DÁ NA LUZ DA DIVINDADE, deveras, é Consciência, se a
tomamos como Luz.
Portanto, bem
antes que a Consciência fosse, como viria a ser tratada após a segunda metade
do séc. XX, tudo isso já era assunto da Kabbalah, há mais de 3000 anos. Foi, no
entanto, só a partir de então, em virtude do desenvolvimento de correntes humanísticas
que a psicologia como disciplina começaria a deixar de ser caudal da filosofia
dominante, sobremodo daquelas concepções cartesianas e das da mecânica
reducionista, crescendo para novas áreas até então negligenciadas, ou, até
mesmo desprezadas, mercê dos preconceitos vigentes, tais como as de
experiências místicas, de estados extáticos, de estudos meditativos, da transcendência,
etc., etc.
Jung já
enfatizara o inconsciente e sua dinâmica; enquanto que para ele a psique era
simples interação complementar entre os elementos inconscientes e conscientes,
para Freud ainda prisioneiro de seus pudores cientificistas do iluminismo em
voga, tomasse o inconsciente como depósito psicológico de ocorrências
instintivas rejeitadas, ou de memórias reprimidas e/ou de recalques
subconscientes. Para Jung o inconsciente viria adquirir um novo significado com
funções projetivas teleológicas. Assim, já liberta a psicologia das idéias de
máquina cartesiana e partindo do SELF, como fato capaz de transcender as
limitações próprias do Ego e do inconsciente pessoal viria acessar horizontes
mais amplos, tais como o cosmos. Outrossim, a libido já não seria apenas uma
força estritamente tida como de mera descarga mecânica, antes como força
criativa da natureza sujeita às influências cósmicas. Essa perspectiva
transpessoal libertaria a nova ciência de seus liames
deterministas-mecanicistas a torná-Ia em novo instrumento de pesquisas da
natureza essencial do Ser. Por exemplo, para Stanislau Grof as experiências
transpessoais envolveriam a expansão de consciências para além das fronteiras
habituais do ego e, portanto, para além das limitações de tempo e espaço.
Por volta de
1960 a psicologia humanista não mais restringir-se-ia às patologias, ao
contrário, preocupar-se-ia com outras potencialidades do ser humano e com a sua
saúde.
Abraham Maslov
assinalaria para outras possibilidades capazes de ultrapassarem a auto
realização, quando o indivíduo transcende os limites da própria identidade e da
experiência. Daí em diante experiências descortinariam o vasto campo de
expansão da consciência e das alterações de seus estados.
No dizer de
Omstein (OMSTEIN, R. THE PSYCHOLOGY OF CONSCIOURNESS) a psicologia é
primariamente a ciência daconsciência.
Que radical
mudança. Um novo paradigma! As experiências místicas e as do êxtase só agora
admitidas pelo ESTABLlSHMENT foram, no entanto, fundamentais nas Tradições de
Sabedoria, qual a Kabbalah, o Hinduísmo e o Budismo.
Na Kabbalah
desde o séc. XIII, Abulafia praticava a técnica do êxtase e já havia criado um
escola que se estenderia por mais de cinco séculos de atuação, com meditação e
êxtase através das letras do Aleph-Beit e do Tetragrama, o TESEROUF. Tão
marcante foram as experiências de êxtases na Kabbalah que por volta do séc. XV
e XVI troncos importantes do pensamento cabalístico dariam origem à Kabbalah
Extática.
Com tais
aberturas o desenvolvimento dos espectros de Consciência no que diz respeito ao
Conhecimento Humano tornou-se evidente.
Os Níveis do Espectro da Consciência
Toda evolução
do Espectro da Consciência é uma expansão da identidade, da persona para o Ego
ou do organismo para o cosmos; ou seja, sempre de uma progressiva
desindentificação, (ou de progressivo desapego) de todas aquelas identificações
exclusivas.
Ram Dass |
Ram Dass diz
que: Crescemos com um plano de existência que chamamos de real.
Identificamo-nos por inteiro com essa realidade, que temos por absoluta, e descartamos
as experiências incompatíveis com ela [... o que Eistein demonstrou na física,
se aplica a todos os outros aspectos do cosmos: toda realidade é relativa. Cada
realidade só é verdadeira no âmbito de determinados limites, não passa de uma
versão possível do que as coisas são. Há sempre múltiplas versões da realidade.
Despertarde uma realidade é reconhecer sua realidade relativa.
E falando de um
nível básico de consciência, na sua obra sobre as Estruturas Básicas da
Consciência o notável estudioso do assunto, Ken Wilber, diz: As estruturas
básicas da consciência são, na realidade, aquilo que é conhecido como a Grande
Cadeia do Ser.
Desde aí a
psicologia, que havia deixado de ser a "biografia" do Ego, passa a
tratar da Consciência, agora, referência ao cosmos, ou seja, ao cosmos do Ser.
E ela explica que se algumas versões dessa Grande Cadeia falam só de dois
níveis básicos, apenas matéria e espírito (lembramos que esta era a concepção
egípcia do Templo há 6000 anos atrás) outras há de três (matéria, mente e
espírito), outras, ainda que demonstrem que seriam de quatro ou cinco (matéria,
corpo, mente, alma e espírito).
Assim os
modelos estruturais de Freud, Jung, Piaget, Arieti, Werner, etc, puderam ser
cotejados com modelos estruturais nos sistemas psicológicos das tradições
contemplativas anteriores (MAHAYANA, VEDANTA, SUFI, KABBALAH, PLATONISMO,
MISTICISMO CRISTÃO, AUROBINDO, etc.).
Apresentamos a
tabela I das correlações, que o autor, Ken Wilber, oferece à pg. 20 de sua
obra: "Transformações da Consciência", 1999, Cultrix, São Paulo.
TABELA 1
CORRELAÇÃO ENTRE AS ESTRUTURAS BÁSICAS DE CONSCIÊNCIAS EM QUATRO
SISTEMAS
ESTRUTURAS BÁSICAS
|
AUROBINDO
|
MAHAYANA
|
CHAKRASYOUGUES
|
CABALA
|
Sensorifísico
|
Subconsciente físico
|
|
1 . Mundo físico e instintos. Fome e sede.
|
Malkuth
|
Fantasmagórico-emocional
|
Vital-emocional
|
5vijnanas (os 5 sentidos)
|
2. Nível emocional-sexual
|
Yesod
|
Mente-rep
|
Mente-vontade (conceitos inferiores, df “preop”)
|
|
3. Mente intencional, poder
|
|
Mente
Regra papel
|
Mente-sentidos (uma mente baseada no concreto; Cf “conop”)
|
Manovijnana (a mente reflexiva concreta, coordena os
sentidos).
|
4. Mente-comunitária, amor
|
Hod/Netzach
|
Mente formal-reflexiva
|
Mente do raciocínio (não beseada no concreto, df “formop”)
|
|
5. Mente racional-verbal. Comunicação
|
Tiphareth
|
Visão-lógica
|
Mente-superior (massa-rede, Ideação visão)
|
Manas (a mente superior; condutora entre a mente
individual e alava-vijnana ou mente coletiva).
|
|
|
Psíquica
|
Mente iluminada
|
|
6. Ajna; “terceiro olho”. Cognições psíquicas
|
|
Sutil
|
Mente intuitiva
|
Tained-alavavijnana (mente coletivo-arquetípica.
Vasanas-seminais).
|
7. Sahasrara; coroa, início dos “chakras” superiores além
e dentro de sahasrara
|
Geburah/Chesed
BinahChokmah
|
Causal
|
Mente superior
|
Alava Pura
|
ShivaParamatman
|
Kether
|
Último
|
Supermente
|
E repetimos com
COOMARASWA Y: Mas o que está provado pelas analogias não é a influência de um
sistema de pensamento sobre outro, mas a coerência da tradição metafísica do
mundo em todos os tempos. Ou com R. A. SCHWALLER DE LUBICZ:
O Universo nada
mais é que consciência, e em todas as suas manifestações revela mais que uma
evolução da consciência da origem ao fim. Para fecharmos, observemos as velhas
instruções do ZOHAR (111, 289 b a 290a). Tudo está ligado a unidade num mesmo
todo [...] ao ponto que se torna fácil de ver TUDO É UM. O Eterno é um sem
segundo.
Doravante,
saindo daquelas teorias insignificantes e pontuais que reduziam o homem e, por consequência,
o universo a uma máquina, compreendemos que o Ser é uma unidade, e que toda
unidade é uma força TRIPLA, com manifestação dual, como já ensinava o Templo
Egípcio; ou seja, Deus, Homem e Universo. (Consciência, Alma, Corpo).
São lembretes
que precisamos ter em mente a fim de não perdermos o fio da meada, já que,
desde tempos primevos, sabiam as tradições místicas o que era a Consciência e,
se lapsos houve dessa Sabedoria, devêmo-Ios ao reducionismo racionalista da
filosofia grega, só compreendida literalmente pelos seus acólitos, história afora.
Paz Plena.
Ozâmpin Olafajé
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