quarta-feira, 28 de setembro de 2011
sábado, 24 de setembro de 2011
TÓPICOS À PALESTRA SOBRE: KABBALAH E CONSCIÊNCIA NOVAS ABORDAGENS
Alguns
enunciados básicos para compreensão do que chamamos de anterioridade do
pensamento cabalístico às mais recentes teorias sobre o conceito de
Consciência.
Se a
consciência é essência da Divindade e porque pode ser entendida como a Luz que
desde sempre preenchera o VAZIO (ou o NADA na nossa linguagem) o EIN, o começo
sem fim, que existia, ou que inexistia antes da Existência propriamente tida
como realidade.
O próprio
TZIMTZUM, a retração da LUZ DIVINA para que a Existência se desse, reporta-nos
a isso. Pois tudo era a NÃO-EXISTÊNCIA, o EIN, que vai se tornar o EIN-SOF, o
INFINITO, equivaleria à TOMADA DE CONSCIÊNCIA daquela Consciência Inata - a LUZ
primordial, que vai se projetar nas trevas da retração como EIN SOF AUER. Todo
ESSE MOVIMENTO QUE SE DÁ NA LUZ DA DIVINDADE, deveras, é Consciência, se a
tomamos como Luz.
Portanto, bem
antes que a Consciência fosse, como viria a ser tratada após a segunda metade
do séc. XX, tudo isso já era assunto da Kabbalah, há mais de 3000 anos. Foi, no
entanto, só a partir de então, em virtude do desenvolvimento de correntes humanísticas
que a psicologia como disciplina começaria a deixar de ser caudal da filosofia
dominante, sobremodo daquelas concepções cartesianas e das da mecânica
reducionista, crescendo para novas áreas até então negligenciadas, ou, até
mesmo desprezadas, mercê dos preconceitos vigentes, tais como as de
experiências místicas, de estados extáticos, de estudos meditativos, da transcendência,
etc., etc.
Jung já
enfatizara o inconsciente e sua dinâmica; enquanto que para ele a psique era
simples interação complementar entre os elementos inconscientes e conscientes,
para Freud ainda prisioneiro de seus pudores cientificistas do iluminismo em
voga, tomasse o inconsciente como depósito psicológico de ocorrências
instintivas rejeitadas, ou de memórias reprimidas e/ou de recalques
subconscientes. Para Jung o inconsciente viria adquirir um novo significado com
funções projetivas teleológicas. Assim, já liberta a psicologia das idéias de
máquina cartesiana e partindo do SELF, como fato capaz de transcender as
limitações próprias do Ego e do inconsciente pessoal viria acessar horizontes
mais amplos, tais como o cosmos. Outrossim, a libido já não seria apenas uma
força estritamente tida como de mera descarga mecânica, antes como força
criativa da natureza sujeita às influências cósmicas. Essa perspectiva
transpessoal libertaria a nova ciência de seus liames
deterministas-mecanicistas a torná-Ia em novo instrumento de pesquisas da
natureza essencial do Ser. Por exemplo, para Stanislau Grof as experiências
transpessoais envolveriam a expansão de consciências para além das fronteiras
habituais do ego e, portanto, para além das limitações de tempo e espaço.
Por volta de
1960 a psicologia humanista não mais restringir-se-ia às patologias, ao
contrário, preocupar-se-ia com outras potencialidades do ser humano e com a sua
saúde.
Abraham Maslov
assinalaria para outras possibilidades capazes de ultrapassarem a auto
realização, quando o indivíduo transcende os limites da própria identidade e da
experiência. Daí em diante experiências descortinariam o vasto campo de
expansão da consciência e das alterações de seus estados.
No dizer de
Omstein (OMSTEIN, R. THE PSYCHOLOGY OF CONSCIOURNESS) a psicologia é
primariamente a ciência daconsciência.
Que radical
mudança. Um novo paradigma! As experiências místicas e as do êxtase só agora
admitidas pelo ESTABLlSHMENT foram, no entanto, fundamentais nas Tradições de
Sabedoria, qual a Kabbalah, o Hinduísmo e o Budismo.
Na Kabbalah
desde o séc. XIII, Abulafia praticava a técnica do êxtase e já havia criado um
escola que se estenderia por mais de cinco séculos de atuação, com meditação e
êxtase através das letras do Aleph-Beit e do Tetragrama, o TESEROUF. Tão
marcante foram as experiências de êxtases na Kabbalah que por volta do séc. XV
e XVI troncos importantes do pensamento cabalístico dariam origem à Kabbalah
Extática.
Com tais
aberturas o desenvolvimento dos espectros de Consciência no que diz respeito ao
Conhecimento Humano tornou-se evidente.
Os Níveis do Espectro da Consciência
Toda evolução
do Espectro da Consciência é uma expansão da identidade, da persona para o Ego
ou do organismo para o cosmos; ou seja, sempre de uma progressiva
desindentificação, (ou de progressivo desapego) de todas aquelas identificações
exclusivas.
Ram Dass |
Ram Dass diz
que: Crescemos com um plano de existência que chamamos de real.
Identificamo-nos por inteiro com essa realidade, que temos por absoluta, e descartamos
as experiências incompatíveis com ela [... o que Eistein demonstrou na física,
se aplica a todos os outros aspectos do cosmos: toda realidade é relativa. Cada
realidade só é verdadeira no âmbito de determinados limites, não passa de uma
versão possível do que as coisas são. Há sempre múltiplas versões da realidade.
Despertarde uma realidade é reconhecer sua realidade relativa.
E falando de um
nível básico de consciência, na sua obra sobre as Estruturas Básicas da
Consciência o notável estudioso do assunto, Ken Wilber, diz: As estruturas
básicas da consciência são, na realidade, aquilo que é conhecido como a Grande
Cadeia do Ser.
Desde aí a
psicologia, que havia deixado de ser a "biografia" do Ego, passa a
tratar da Consciência, agora, referência ao cosmos, ou seja, ao cosmos do Ser.
E ela explica que se algumas versões dessa Grande Cadeia falam só de dois
níveis básicos, apenas matéria e espírito (lembramos que esta era a concepção
egípcia do Templo há 6000 anos atrás) outras há de três (matéria, mente e
espírito), outras, ainda que demonstrem que seriam de quatro ou cinco (matéria,
corpo, mente, alma e espírito).
Assim os
modelos estruturais de Freud, Jung, Piaget, Arieti, Werner, etc, puderam ser
cotejados com modelos estruturais nos sistemas psicológicos das tradições
contemplativas anteriores (MAHAYANA, VEDANTA, SUFI, KABBALAH, PLATONISMO,
MISTICISMO CRISTÃO, AUROBINDO, etc.).
Apresentamos a
tabela I das correlações, que o autor, Ken Wilber, oferece à pg. 20 de sua
obra: "Transformações da Consciência", 1999, Cultrix, São Paulo.
TABELA 1
CORRELAÇÃO ENTRE AS ESTRUTURAS BÁSICAS DE CONSCIÊNCIAS EM QUATRO
SISTEMAS
ESTRUTURAS BÁSICAS
|
AUROBINDO
|
MAHAYANA
|
CHAKRASYOUGUES
|
CABALA
|
Sensorifísico
|
Subconsciente físico
|
|
1 . Mundo físico e instintos. Fome e sede.
|
Malkuth
|
Fantasmagórico-emocional
|
Vital-emocional
|
5vijnanas (os 5 sentidos)
|
2. Nível emocional-sexual
|
Yesod
|
Mente-rep
|
Mente-vontade (conceitos inferiores, df “preop”)
|
|
3. Mente intencional, poder
|
|
Mente
Regra papel
|
Mente-sentidos (uma mente baseada no concreto; Cf “conop”)
|
Manovijnana (a mente reflexiva concreta, coordena os
sentidos).
|
4. Mente-comunitária, amor
|
Hod/Netzach
|
Mente formal-reflexiva
|
Mente do raciocínio (não beseada no concreto, df “formop”)
|
|
5. Mente racional-verbal. Comunicação
|
Tiphareth
|
Visão-lógica
|
Mente-superior (massa-rede, Ideação visão)
|
Manas (a mente superior; condutora entre a mente
individual e alava-vijnana ou mente coletiva).
|
|
|
Psíquica
|
Mente iluminada
|
|
6. Ajna; “terceiro olho”. Cognições psíquicas
|
|
Sutil
|
Mente intuitiva
|
Tained-alavavijnana (mente coletivo-arquetípica.
Vasanas-seminais).
|
7. Sahasrara; coroa, início dos “chakras” superiores além
e dentro de sahasrara
|
Geburah/Chesed
BinahChokmah
|
Causal
|
Mente superior
|
Alava Pura
|
ShivaParamatman
|
Kether
|
Último
|
Supermente
|
E repetimos com
COOMARASWA Y: Mas o que está provado pelas analogias não é a influência de um
sistema de pensamento sobre outro, mas a coerência da tradição metafísica do
mundo em todos os tempos. Ou com R. A. SCHWALLER DE LUBICZ:
O Universo nada
mais é que consciência, e em todas as suas manifestações revela mais que uma
evolução da consciência da origem ao fim. Para fecharmos, observemos as velhas
instruções do ZOHAR (111, 289 b a 290a). Tudo está ligado a unidade num mesmo
todo [...] ao ponto que se torna fácil de ver TUDO É UM. O Eterno é um sem
segundo.
Doravante,
saindo daquelas teorias insignificantes e pontuais que reduziam o homem e, por consequência,
o universo a uma máquina, compreendemos que o Ser é uma unidade, e que toda
unidade é uma força TRIPLA, com manifestação dual, como já ensinava o Templo
Egípcio; ou seja, Deus, Homem e Universo. (Consciência, Alma, Corpo).
São lembretes
que precisamos ter em mente a fim de não perdermos o fio da meada, já que,
desde tempos primevos, sabiam as tradições místicas o que era a Consciência e,
se lapsos houve dessa Sabedoria, devêmo-Ios ao reducionismo racionalista da
filosofia grega, só compreendida literalmente pelos seus acólitos, história afora.
Paz Plena.
Ozâmpin Olafajé
terça-feira, 20 de setembro de 2011
domingo, 18 de setembro de 2011
COMO ENTENDER O QUE SIGNIFICA A NUMEROLOGIA KABBALÍSTICA
Não confundir números
com algarismos.
Situar esta numerologia entre o que se convencionou chamar
de artes divinatórias é mais que leviandade, chega às raias da irrisão. Especialmente,
quanto à numerologia Kabbalística que é um estudo sistemático dos números e de
suas variáveis como funções ontológicas, posto que se parte de um princípio
básico e fundamental: - Todo número é
função cósmica.
O que quer significar este enunciado?
Invocamos em nosso socorro os conceitos de um eminente
especialista, fora do território cabalístico, o esoterista R.A.S. de Lubicz que
esclarece Função é sempre a natureza de uma atividade e revela um impulso, um
fim e um modo. O impulso, sempre determinado, logo é invariável. O fim ocorre
quando a função se torna variável em razão do modo. O modo é que é mais
complexo já que compreende certa intensidade, um meio e um ritmo.
Ora, o meio é sempre distinto, por isso, único. O modo,
então, há de ser considerado pela intensidade e suas variações. Essas variações,
sim, é que vão revelar o ritmo. Consequentemente a função é um impulso com intensidade variável. Ora, o número é
essa variação. Como tal o número é a própria natureza.
Já no livro de Esdras conferimos: Com medidas foram medidos os tempos,
e com números os foram numerados e nada, nada se modifica nem se move até que a
medida se complete. Basta alguma atenção para se entender desta proposição
que o número vai muito além de mera função quantitativa, de apenas numerar,
posto que o nada se modifica nem se move
evidencia que além de quantitativa ela é variação de impulso, portanto, verdadeira
função cósmica; até que se cumpra
nada se modifica ou se move. Não se trata de mera quantificação mas de real
qualificação.
A.-D. GRAD chama atenção para a idéia de TEMPO que para
concepção hebraica não é uma referência ao presente-passado-futuro mas por algo
acabado/inacabado, perfeito/imperfeito, enfim, mais qualitativo que
quantitativo. Toda função denota
primordialmente qualidades, e, nessa perspectiva o tempo especifica dimensões:
- Profundidade de Início e Profundidade de Fim.
Outrossim, as consoantes hebraicas têm a particularidade de
serem antes valores numéricos; são números, e, não meros sinais gráficos ou
fonemas, por isso, diferem das letras de nossos alfabetos profanos, pelos
valores correspondentes, e, aparentam um radical (numérico) que equivale a
radical ontológico idêntico na formação da palavra. Esse alfabeto não tem nada
absolutamente comparável ao de nossas línguas. Assim, o valor numérico das
letras hebraicas tem de ser tomado e considerado tanto por numerólogos
cabalistas tanto quanto por exegetas dos textos sagrados.
A numerologia cabalística, portanto, antes trata da alma que
da personalidade. Enquanto que a “biografia do ego” e de sua imagem é o escopo
das numerologias clássicas e encontradiças; a Kabbalística, mercê da própria significação
das consoantes-números hebraicas, apenas, toma a personalidade como indício de
comportamentos humanos, e, na observação de que essa personalidade esteja, ou não,
conseguindo, ou não, realizar o que o Arquétipo (ou seja, a matriz anímica) tem
como propósito, ou, como missão a cumprir para a sua evolução espiritual.
Alma e psique (estados de consciência) embora tenham de ser
entendidos conjuntamente, funcionam distintamente. Enquanto que a psique parece
“digerir” os feitos e fatos que se lhe antolham vida afora, a alma com a sua
perspectiva cósmica cuida do destino da criatura no Plano Maior da Existência.
Ficam evidentes quanto às numerologias que todas têm o seu valor e suas virtudes específicas, o que as distingue são suas metas e objetivos. A Kabbalística precipuamente intenta esclarecer os desígnios d’alma, quando, então, a psique, objetivo de todas as outras, reporta-se tão só à experiência particular de cada encarnação. Ora, toda realidade é só consciência, enquanto a alma é a Consciência de Ser, a psique é a Consciência de Corpo.
Para vir-se a compreender o ser humano, tais enfoques se
completam e jamais se conflitam, pois somos, todos em Um, como Alma-Psique-Corpo.
Paz Plena.
Ozam
N.B.: Há mais de 30 anos produzimos numerologias seguindo
rigorosamente os ensinamentos cabalísticos e, sempre com muita aceitação e
ajuda ao consulente que busca, antes e acima de tudo, entender o porquê da
existência como encarnação, um aspecto apenas da Realidade como Consciência.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
A BEM DA VERDADE
KABBALAH NÃO É
FILOSOFIA !!
A Semântica (s.f. do grego semantiké) que se define como: 1) Estudo da evolução do sentido das
palavras através do tempo e do espaço; semiótica, semiologia, etc; conforme
rezam os dicionários – não raro não passa de uma veste a cobrir a dura nudez da
ignorância. E, por causa da semântica, o termo “filosofia” fugiu do significado
rigoroso de certa disciplina que é, e passou a designar, também, um modo de
ver, ou de entender certos valores; ou já pela falta absoluta desses valores
quaisquer que sejam, e/ou de apresentar certos padrões de pensamentos, atitudes
e comportamentos, em geral, não muito justificáveis... Enfim, o termo “filosofia”
perdeu todo seu significado de disciplina específica e veio a ser entendido
como qualquer coisa, que por si, não é coisa nenhuma.
Ora, a língua é, por natureza, um fenômeno vivo e, portanto,
temos de nos conformar com a unanimidade no falar que, sem dúvida, é uma forma
da ignorância ululante de se manifestar. Mas, como o “vírus” da semântica é
altamente contagioso, e sobremodo, quando age na massa cefálica do vulgo
mundano e passa a contagiar a tudo que se lhe aproxima, assim como esse “vírus”
semântico atacou o termo “filosofia”, está atacando o sentido da palavra
cabala, já tão mal tratada pelo ocultismo vigente e pelos dicionários
encontradiços. Como tal, pasmem todos, a toda hora se ouve essa tirada acaciana
de que a cabala é uma filosofia. Ou seja, como conceito de filosofia foi esvaziado na
sua figuração em vista de sua maior abrangência e, já não quer dizer coisa
nenhuma: cabala, então, agora, já agredida pelo “vírus” semântico, também vai
acabar por vir a significar nada.
Cumpre-nos, em tempo, acudir o paciente combalido, acometido
pelo “vírus”. Embora possa dizer-se que Kabbalah é uma concepção de vida, esta
concepção não é absolutamente filosófica (especulativa), porque é antes
resultante da própria experiência da humanidade. E, da Sabedoria Anterior de
que somos todos dotados. A Sabedoria é o
canal da Essência de D’us e, portanto, sustenta todas as coisas (Bahir, A.
Kaplan, pg. 129). Esta concepção é a da absoluta certeza. Pois a Kabbalah é
antes de tudo uma mística. Toda mística se sustenta num pressuposto básico
anterior, que é a fé uma certeza (moral)
além da razão. Para a Kabbalah, como concepção monista, tudo é Um. Um abrange
tudo. Vejam o Shemá (Deut. 6:4): - Escuta,
ó Israel, O Senhor é nosso D’us. O Senhor é Um. Só D’us é. Só há uma única
e absoluta realidade: D’us.
Isaías (6:3) Santo,
santo, santo, o Senhor das Hostes, toda a terra é preenchida com Sua Glória.
Ou Ezequiel (3:12) Bendita seja a Glória
de D’us desde a sua morada. Conforme inferimos dessas duas instruções,
esses aspectos expressam que D’us preenche todos os mundos, enquanto os envolve
a todos.
Quando se diz que Ele preenche e que Ele envolve então, os
próprios universos onde Ele se oculta, é que se trata do próprio conceito do
Tzim-Tzum, elementar para a metodologia do pensamento cabalístico.
Em nosso modesto trabalho de instruções para formação de
estudiosos da Kabbalah, “Elementos da Kabbalah” desenvolvemos a tese de
que Kabbalah não é filosofia, nem religião e nem magia. Isso estribado nos Ensinamentos da Tradição e, reportando-nos
às palavras do mestre, rabi Moisés de Burgos (séc. XIII), excluindo o
conhecimento cabalístico do filosófico: - Deveríeis
saber que estes filósofos cuja sabedoria tanto elogiais terminam onde nós
começamos. Eis aí.
Paz Plena.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
domingo, 11 de setembro de 2011
COMENTANDO III
O MODELO EXTÁTICO (2º Modelo)
No seu artigo diz o exegeta MOSHE IDEL: O Êxtase é uma constante da experiência humana.
Assim chama a atenção de que as experiências extáticas vão se fazendo cada vez mais notórias, desde já os meados do séc. XIII, registrando-se por volta de século XV e XVI, depois de Abuláfia (séc. XIII), as de Yossef Karo, as de Luria e de outros.
Característica é a observação do R. Isaac de Acre a respeito dessas experiências, quando explica que o segredo dos segredos é sempre participação com o Espírito divino: Aquele que merece o sagrado da comunhão (com o Divino) merecerá o segredo da equanimidade, e se ele recebe esse segredo, então conhecerá também o segredo da hitbodedut e uma vez que tenha conseguido da hitbodedut, receberá o Espírito divino, e daí a profecia, até ele profetizar e dizer coisas futuras.
Como se pode perceber a característica dessa prática de Kabbalah é o ideal da devekut. As técnicas capazes de assegurarem esses tipos de união com a divindade são hitbodedut, como certo tipo de meditação, seja pela solidão, seja pela concentração mental, ou hischtovut, dita equanimidade, e as célebres técnicas lingüísticas de combinar letras do Aleph-Beit com as do Tetragrammaton Sagrado e com a contemplação dos Nomes divinos. A importância dos componentes lingüísticos dessas técnicas são evidentemente marcantes.
Todavia, nenhum movimento teria acentuado tanto a importância das experiências pneumáticas quanto o hassidismo, na Polônia, o faria mais tarde. Assim, diz MOSHE IDEL, há boas razões para se crer que os manuscritos de Abuláfia (séc. XIII) teriam sido já conhecidos no séc. XVIII, na Europa Oriental.
Para a abordagem extática pode o cabalista usar a linguagem e os textos canônicos com o propósito de induzir a experiência mística, mediante a manipulação da linguagem acompanhada com outros componentes de outras técnicas. A teoria extática da linguagem seria, então, menos simbólica e teúrgica do que a da Kabbalah teosófica. Moshe Idel observa que... na Cabala extática a desconstrução dos textos canônicos, bem como da linguagem corriqueira, constitui importante ferramenta mística para reestruturar a psique humana.
(Continua na abordagem do 3º modelo)
HITBODEDUT NOTA/GLOSSÁRIO:
Rabi NACHMAN |
Conforme se depreende dos ensinamentos de Rabi NACHMAN,
HITBODEDUT é a palavra clássica para meditação, que quer dizer literalmente
auto-isolamento mental. Ensinada pelo mestre Rabi Nachman, Hitbodebut seria a
meditação interior dirigida. é o melhor e o mais alto nível de adoração.
“Medito todas as noites sobre minha cama em lágrimas.” (Salmos 6:7) Esse era o
costume do Rei David.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
LUMINOSIDADES
CHABAD
Retrato de Shneur Zalman de Liadi (1745-1812) |
No seu
leito de morte CHNÉOUR Zalman notara que não via no seu quarto nem móveis nem
espaço, tão somente percebia a energia divina, a verdadeira realidade. Em um
aforisma ele fez esta observação:
Como é que
se aprende?
O que é que
é o mundo? – É onde se aprende.
E o que é a
alma? – É com que a gente aprende.
CHNÉOUR
ZALMAN de Lyadi (1745-1812)
é um dos ideólogos do Movimento do Hassidismo, dito Chabad, uma força dentro de
hassidismo, cuja essência viria de DOV BAER “maggid de Mazeritch”.
Chabad, é o acrônimo de Hochmah, Binah e
Daat, sabedoria, entendimento e conhecimento, clara referencia aos mundos
superiores.
Para Chabad
a idéia hassídica da negação da existência, ou da nihilificação do que
é, toma uma dupla significação: tudo dantes que se liga ao mundo material, que
para o homem é o real (o que é) do ponto de vista do divino, é como se fosse
nada.
Eis porque
o coro dos Serafins exclamava: Toda a terra é plena de Sua glória. Os hassidim
Chabad tomaram esse verso pelo seu sentido literal e inferem disso que
definitivamente não há coisa nenhuma senão a própria energia divina.
Hoje em
dia, ainda, os chabadniks consagram uma hora inteira em cantarolando
suavemente o SHEMA e, entregando-se inteiramente ao divino, restaurando,
dessarte, em espírito, a unidade divina entre os mundos inferiores e os
superiores.
LUMINOSIDADES
HITBODEDUT
Elias era um ser humano comum que vivia neste mundo (onde se
aprende). Mas através da meditação isolada (e solidão), ele conseguiu alcançar
um nível tão alto que nunca provou a morte. Isso que dizia o Rabi Nachman torna
obvio que Elias só alcançou seu alto nível espiritual devido à prática do
HITBODEDUT. Prática de outros grandes justos (Cochavê Or, Anshé Maharan 23,
Jerusalém 1933, pg. 76)
domingo, 4 de setembro de 2011
COMENTANDO II
O Modelo
Teúrgico-Teosófico
O mais conhecido dos modelos cabalísticos é
teúrgico-teosófico. Por quê? Primeiro, porque se trata de um domínio de
especulação que é tido como teosófico, e, por outro lado – e, isso é para se
destacar – com a maneira como os feitos religiosos e humanos exerçam impacto
sobre aquele campo que pode ser chamado de teúrgico (do grego theourgos –
aquilo que trata do poder divino).
Para tal modelo, fundamental é a visão do reino divino, como
constituído de uma série de dez fatores denominados de Sefirot (plural de Sefirah), já abordados alhures.
Sefirot são
hipóstases divinas. Originalmente referiam-se a números (sêfer, com o radical
hebraico das letras: samech (s), phe (f) e resh (r) sphr) místicos como desdobramentos do Infinito (Ein Sof). Trata-se de uma dinâmica onde
o processo de interação entre esses poderes e eles próprios, assim como entre
as atividades religiosas humanas e alguns desses poderes são a quintessência própria
aos reinos divinos e humanos. Como as Sefirot
formaram a essência divina, o reino divino aparece como um sistema complexo.
Cabalistas outros tomam as Sefirot como a divina presença no mundo, e há os que referem-nas
como sendo poderes da alma humana.
Para Luria, o Leão de Safed, séc. XVI, todas essas
configurações divinas nada mais são que naturezas antropomórficas evidentes,
denominadas de PARTZVFIN
(personalidades) que evidenciam a
principal estrutura de reino divino.
A TORÁ é também, concebida, enquanto símbolo, como
representação da divina forma.
Um terceiro modelo teúrgico é central na Cabala Luriânica
que se refere às centelhas espalhadas com a chevirah
(quebradura) ha-Kelim.
O modelo teúrgico-teosófico de Safed (séc. XVI), acabaria
como predominante e ele pressupõe que a linguagem reflete a estrutura interna
do reino divino, o sistema sefirótico dos poderes divinos.
O rolo da TORÁ é um símbolo gráfico da forma divina, daí
porque se supõe não tratar-se apenas de uma mensagem semântica da contemplação
da maneira em que o texto foi dado, assim esse símbolo constitui uma
representação fiel do inteiro mundo divino dentro da realidade inferior.
Outro tipo de símbolo: Jerusalém,
concebida como o sítio unificado dos reinos mundano e divino, um locus onfálico
a assumir a afinidade entre o nome e a entidade por ele designado.
Sem dúvidas, todo esse simbolismo é fundamentalmente um
código para interpretar textos canônicos.
(continua)
Paz Plena.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
COMENTANDO
A preocupação de informar nos faz, às vezes, repetitivos. Mas nos escusamos sempre na justificativa de que nos move a intenção de sempre trazer mais luzes com outros novos enfoques.
Moshe Idel |
Numa introdução que faz à Kabbalah, o especialista e exegeta MOSHE IDEL, uma das eminentes referências sobre o assunto, oferece-nos muitos subsídios esclarecedores para nossos estudos. Dessarte, nos reporta ao fato de que, em suas formas bíblicas e rabínicas, o judaísmo é uma religião democrática e exotérica, que, no entanto, envolve dimensões místicas e significativas tendências esotéricas, entre as quais a Kabbalah é a mais encontradiça. Em na situando dentro do judaísmo, vai revelando aqui e acolá sua evolução através do espaço, lugares em que mais vicejara, e dos tempos quando se tornara mais influente.
Merece destaque a propriedade com que esclarece-nos, “Em geral, o ocultismo europeu assim como diversas formas de teosofia e franco-maçonaria européias foram substancialmente influenciadas pelo pensamento cabalístico. Após demonstrar a ligação de uma rica literatura oriunda da Kabbalah por mais de oito séculos, não unificada e com capitais divergências, revela três modelos mais importantes e explica que diversas espécies cabalísticas de literatura (...) concentraram seu foco ao menos em três modelos maiores: o mais importante, que proponho designar como teúrgico-teosófico, o outro secundário, estática e last but not last, o modelo mágico-talismânico.
É essa subdivisão que nos interessa mais imediatamente e consideramo-la como sintomática quanto às várias correntes cabalísticas que explicam as abordagens tão diversificadas para aqueles que tentam compreender a Kabbalah Válida para que os iniciantes não se deixem perder em suas buscas, e para que não lhes pareça mui dispersas essas ramificações e suas principais características, que estão longe de representarem uma linha unificada ou monocromática de pensamento que alegadamente muda no transcurso da história, como contingências que são do seu próprio desenvolvimento.
O próprio autor comenta que os cabalistas pretendiam que seus escritos constituíssem a antiga e oculta tradição judaica que continha a essência do judaísmo. Não obstante essa afirmação, as divergências conceituais entre as diversas escolas cabalísticas problematizam semelhante assunção. O impacto material antigo e medieval derivado de fontes não judaicas – basicamente fator de extração helenística, neoplatônica, hermética e neopitagórica – é significante e discernível em todos os tipos de Cabala como é o caso da filosofia, gramática, literatura e ciência medieval judaicos. A maioria dessas fontes foi mediada, modificada, e enriquecida por autores muçulmanos. Contudo, em acréscimo, a contribuição desses tipos especulativos de material, cabalistas da Idade Média, também, desenvolveram alguns modos de pensamentos encontrados em espécies mais antigas de literatura escrita, como a rabínica e as de caráter mágico (...)
Isso serve na contraposição a certas preconceituosas e malévolas opiniões de que a Kabbalah é concepção fechada e de exclusão, ligada tão somente a uma tradição sectária e hermética.
- Voltaremos ao assunto para tratar dos três modelos mencionados. –
(As citações são excertos da obra: Cabala, Cabalismo e Cabalistas. Ed. Perspectiva)
Assinar:
Postagens (Atom)