DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.

sábado, 24 de setembro de 2011

TÓPICOS À PALESTRA SOBRE: KABBALAH E CONSCIÊNCIA NOVAS ABORDAGENS


Alguns enunciados básicos para compreensão do que chamamos de anterioridade do pensamento cabalístico às mais recentes teorias sobre o conceito de Consciência.
Se a consciência é essência da Divindade e porque pode ser entendida como a Luz que desde sempre preenchera o VAZIO (ou o NADA na nossa linguagem) o EIN, o começo sem fim, que existia, ou que inexistia antes da Existência propriamente tida como realidade.
O próprio TZIMTZUM, a retração da LUZ DIVINA para que a Existência se desse, reporta-nos a isso. Pois tudo era a NÃO-EXISTÊNCIA, o EIN, que vai se tornar o EIN-SOF, o INFINITO, equivaleria à TOMADA DE CONSCIÊNCIA daquela Consciência Inata - a LUZ primordial, que vai se projetar nas trevas da retração como EIN SOF AUER. Todo ESSE MOVIMENTO QUE SE DÁ NA LUZ DA DIVINDADE, deveras, é Consciência, se a tomamos como Luz.
Portanto, bem antes que a Consciência fosse, como viria a ser tratada após a segunda metade do séc. XX, tudo isso já era assunto da Kabbalah, há mais de 3000 anos. Foi, no entanto, só a partir de então, em virtude do desenvolvimento de correntes humanísticas que a psicologia como disciplina começaria a deixar de ser caudal da filosofia dominante, sobremodo daquelas concepções cartesianas e das da mecânica reducionista, crescendo para novas áreas até então negligenciadas, ou, até mesmo desprezadas, mercê dos preconceitos vigentes, tais como as de experiências místicas, de estados extáticos, de estudos meditativos, da transcendência, etc., etc.
Jung já enfatizara o inconsciente e sua dinâmica; enquanto que para ele a psique era simples interação complementar entre os elementos inconscientes e conscientes, para Freud ainda prisioneiro de seus pudores cientificistas do iluminismo em voga, tomasse o inconsciente como depósito psicológico de ocorrências instintivas rejeitadas, ou de memórias reprimidas e/ou de recalques subconscientes. Para Jung o inconsciente viria adquirir um novo significado com funções projetivas teleológicas. Assim, já liberta a psicologia das idéias de máquina cartesiana e partindo do SELF, como fato capaz de transcender as limitações próprias do Ego e do inconsciente pessoal viria acessar horizontes mais amplos, tais como o cosmos. Outrossim, a libido já não seria apenas uma força estritamente tida como de mera descarga mecânica, antes como força criativa da natureza sujeita às influências cósmicas. Essa perspectiva transpessoal libertaria a nova ciência de seus liames deterministas-mecanicistas a torná-Ia em novo instrumento de pesquisas da natureza essencial do Ser. Por exemplo, para Stanislau Grof as experiências transpessoais envolveriam a expansão de consciências para além das fronteiras habituais do ego e, portanto, para além das limitações de tempo e espaço.
Por volta de 1960 a psicologia humanista não mais restringir-se-ia às patologias, ao contrário, preocupar-se-ia com outras potencialidades do ser humano e com a sua saúde.
Abraham Maslov assinalaria para outras possibilidades capazes de ultrapassarem a auto realização, quando o indivíduo transcende os limites da própria identidade e da experiência. Daí em diante experiências descortinariam o vasto campo de expansão da consciência e das alterações de seus estados.
No dizer de Omstein (OMSTEIN, R. THE PSYCHOLOGY OF CONSCIOURNESS) a psicologia é primariamente a ciência daconsciência.
Que radical mudança. Um novo paradigma! As experiências místicas e as do êxtase só agora admitidas pelo ESTABLlSHMENT foram, no entanto, fundamentais nas Tradições de Sabedoria, qual a Kabbalah, o Hinduísmo e o Budismo.
Na Kabbalah desde o séc. XIII, Abulafia praticava a técnica do êxtase e já havia criado um escola que se estenderia por mais de cinco séculos de atuação, com meditação e êxtase através das letras do Aleph-Beit e do Tetragrama, o TESEROUF. Tão marcante foram as experiências de êxtases na Kabbalah que por volta do séc. XV e XVI troncos importantes do pensamento cabalístico dariam origem à Kabbalah Extática.
Com tais aberturas o desenvolvimento dos espectros de Consciência no que diz respeito ao Conhecimento Humano tornou-se evidente.
  
Os Níveis do Espectro da Consciência

Toda evolução do Espectro da Consciência é uma expansão da identidade, da persona para o Ego ou do organismo para o cosmos; ou seja, sempre de uma progressiva desindentificação, (ou de progressivo desapego) de todas aquelas identificações exclusivas.
Ram Dass
Ram Dass diz que: Crescemos com um plano de existência que chamamos de real. Identificamo-nos por inteiro com essa realidade, que temos por absoluta, e descartamos as experiências incompatíveis com ela [... o que Eistein demonstrou na física, se aplica a todos os outros aspectos do cosmos: toda realidade é relativa. Cada realidade só é verdadeira no âmbito de determinados limites, não passa de uma versão possível do que as coisas são. Há sempre múltiplas versões da realidade. Despertarde uma realidade é reconhecer sua realidade relativa.
E falando de um nível básico de consciência, na sua obra sobre as Estruturas Básicas da Consciência o notável estudioso do assunto, Ken Wilber, diz: As estruturas básicas da consciência são, na realidade, aquilo que é conhecido como a Grande Cadeia do Ser.
Desde aí a psicologia, que havia deixado de ser a "biografia" do Ego, passa a tratar da Consciência, agora, referência ao cosmos, ou seja, ao cosmos do Ser. E ela explica que se algumas versões dessa Grande Cadeia falam só de dois níveis básicos, apenas matéria e espírito (lembramos que esta era a concepção egípcia do Templo há 6000 anos atrás) outras há de três (matéria, mente e espírito), outras, ainda que demonstrem que seriam de quatro ou cinco (matéria, corpo, mente, alma e espírito).
Assim os modelos estruturais de Freud, Jung, Piaget, Arieti, Werner, etc, puderam ser cotejados com modelos estruturais nos sistemas psicológicos das tradições contemplativas anteriores (MAHAYANA, VEDANTA, SUFI, KABBALAH, PLATONISMO, MISTICISMO CRISTÃO, AUROBINDO, etc.).
Apresentamos a tabela I das correlações, que o autor, Ken Wilber, oferece à pg. 20 de sua obra: "Transformações da Consciência", 1999, Cultrix, São Paulo.


TABELA 1
CORRELAÇÃO ENTRE AS ESTRUTURAS BÁSICAS DE CONSCIÊNCIAS EM QUATRO SISTEMAS

ESTRUTURAS BÁSICAS
AUROBINDO
MAHAYANA
CHAKRASYOUGUES
CABALA
Sensorifísico
Subconsciente físico

1 . Mundo físico e instintos. Fome e sede.
Malkuth
Fantasmagórico-emocional
Vital-emocional
5vijnanas (os 5 sentidos)
2. Nível emocional-sexual
Yesod
Mente-rep
Mente-vontade (conceitos inferiores, df “preop”)

3. Mente intencional, poder

Mente
Regra papel
Mente-sentidos (uma mente baseada no concreto; Cf “conop”)
Manovijnana (a mente reflexiva concreta, coordena os sentidos).
4. Mente-comunitária, amor
Hod/Netzach
Mente formal-reflexiva
Mente do raciocínio (não beseada no concreto, df “formop”)

5. Mente racional-verbal. Comunicação
Tiphareth
Visão-lógica
Mente-superior (massa-rede, Ideação visão)
Manas (a mente superior; condutora entre a mente individual e alava-vijnana ou mente coletiva).

Psíquica
Mente iluminada

6. Ajna; “terceiro olho”. Cognições psíquicas
Sutil
Mente intuitiva
Tained-alavavijnana (mente coletivo-arquetípica. Vasanas-seminais).
7. Sahasrara; coroa, início dos “chakras” superiores além e dentro de sahasrara
Geburah/Chesed
BinahChokmah
Causal
Mente superior
Alava Pura
ShivaParamatman
Kether
Último
Supermente


E repetimos com COOMARASWA Y: Mas o que está provado pelas analogias não é a influência de um sistema de pensamento sobre outro, mas a coerência da tradição metafísica do mundo em todos os tempos. Ou com R. A. SCHWALLER DE LUBICZ:
O Universo nada mais é que consciência, e em todas as suas manifestações revela mais que uma evolução da consciência da origem ao fim. Para fecharmos, observemos as velhas instruções do ZOHAR (111, 289 b a 290a). Tudo está ligado a unidade num mesmo todo [...] ao ponto que se torna fácil de ver TUDO É UM. O Eterno é um sem segundo.
Doravante, saindo daquelas teorias insignificantes e pontuais que reduziam o homem e, por consequência, o universo a uma máquina, compreendemos que o Ser é uma unidade, e que toda unidade é uma força TRIPLA, com manifestação dual, como já ensinava o Templo Egípcio; ou seja, Deus, Homem e Universo. (Consciência, Alma, Corpo).
São lembretes que precisamos ter em mente a fim de não perdermos o fio da meada, já que, desde tempos primevos, sabiam as tradições místicas o que era a Consciência e, se lapsos houve dessa Sabedoria, devêmo-Ios ao reducionismo racionalista da filosofia grega, só compreendida literalmente pelos seus acólitos, história afora.

Paz Plena.

Ozâmpin Olafajé

domingo, 18 de setembro de 2011

COMO ENTENDER O QUE SIGNIFICA A NUMEROLOGIA KABBALÍSTICA


Não confundir números com algarismos.

Situar esta numerologia entre o que se convencionou chamar de artes divinatórias é mais que leviandade, chega às raias da irrisão. Especialmente, quanto à numerologia Kabbalística que é um estudo sistemático dos números e de suas variáveis como funções ontológicas, posto que se parte de um princípio básico e fundamental: - Todo número é função cósmica.

O que quer significar este enunciado?

Invocamos em nosso socorro os conceitos de um eminente especialista, fora do território cabalístico, o esoterista R.A.S. de Lubicz que esclarece Função é sempre a natureza de uma atividade e revela um impulso, um fim e um modo. O impulso, sempre determinado, logo é invariável. O fim ocorre quando a função se torna variável em razão do modo. O modo é que é mais complexo já que compreende certa intensidade, um meio e um ritmo.

Ora, o meio é sempre distinto, por isso, único. O modo, então, há de ser considerado pela intensidade e suas variações. Essas variações, sim, é que vão revelar o ritmo. Consequentemente a função é um impulso com intensidade variável. Ora, o número é essa variação. Como tal o número é a própria natureza.

Já no livro de Esdras conferimos: Com  medidas foram medidos os tempos, e com números os foram numerados e nada, nada se modifica nem se move até que a medida se complete. Basta alguma atenção para se entender desta proposição que o número vai muito além de mera função quantitativa, de apenas numerar, posto que o nada se modifica nem se move evidencia que além de quantitativa ela é variação de impulso, portanto, verdadeira função cósmica; até que se cumpra nada se modifica ou se move. Não se trata de mera quantificação mas de real qualificação.

A.-D. GRAD chama atenção para a idéia de TEMPO que para concepção hebraica não é uma referência ao presente-passado-futuro mas por algo acabado/inacabado, perfeito/imperfeito, enfim, mais qualitativo que quantitativo. Toda função denota primordialmente qualidades, e, nessa perspectiva o tempo especifica dimensões: - Profundidade de Início e Profundidade de Fim.

Outrossim, as consoantes hebraicas têm a particularidade de serem antes valores numéricos; são números, e, não meros sinais gráficos ou fonemas, por isso, diferem das letras de nossos alfabetos profanos, pelos valores correspondentes, e, aparentam um radical (numérico) que equivale a radical ontológico idêntico na formação da palavra. Esse alfabeto não tem nada absolutamente comparável ao de nossas línguas. Assim, o valor numérico das letras hebraicas tem de ser tomado e considerado tanto por numerólogos cabalistas tanto quanto por exegetas dos textos sagrados.

A numerologia cabalística, portanto, antes trata da alma que da personalidade. Enquanto que a “biografia do ego” e de sua imagem é o escopo das numerologias clássicas e encontradiças; a Kabbalística, mercê da própria significação das consoantes-números hebraicas, apenas, toma a personalidade como indício de comportamentos humanos, e, na observação de que essa personalidade esteja, ou não, conseguindo, ou não, realizar o que o Arquétipo (ou seja, a matriz anímica) tem como propósito, ou, como missão a cumprir para a sua evolução espiritual.

Alma e psique (estados de consciência) embora tenham de ser entendidos conjuntamente, funcionam distintamente. Enquanto que a psique parece “digerir” os feitos e fatos que se lhe antolham vida afora, a alma com a sua perspectiva cósmica cuida do destino da criatura no Plano Maior da Existência.


Ficam evidentes quanto às numerologias que todas têm o seu valor e suas virtudes específicas, o que as distingue são suas metas e objetivos. A Kabbalística precipuamente intenta esclarecer os desígnios d’alma, quando, então, a psique, objetivo de todas as outras, reporta-se tão só à experiência particular de cada encarnação. Ora, toda realidade é só consciência, enquanto a alma é a Consciência de Ser, a psique é a Consciência de Corpo.

Para vir-se a compreender o ser humano, tais enfoques se completam e jamais se conflitam, pois somos, todos em Um, como Alma-Psique-Corpo.

Paz Plena.

Ozam

N.B.: Há mais de 30 anos produzimos numerologias seguindo rigorosamente os ensinamentos cabalísticos e, sempre com muita aceitação e ajuda ao consulente que busca, antes e acima de tudo, entender o porquê da existência como encarnação, um aspecto apenas da Realidade como Consciência.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A BEM DA VERDADE


KABBALAH NÃO É FILOSOFIA !!

A Semântica (s.f. do grego semantiké) que se define como: 1) Estudo da evolução do sentido das palavras através do tempo e do espaço; semiótica, semiologia, etc; conforme rezam os dicionários – não raro não passa de uma veste a cobrir a dura nudez da ignorância. E, por causa da semântica, o termo “filosofia” fugiu do significado rigoroso de certa disciplina que é, e passou a designar, também, um modo de ver, ou de entender certos valores; ou já pela falta absoluta desses valores quaisquer que sejam, e/ou de apresentar certos padrões de pensamentos, atitudes e comportamentos, em geral, não muito justificáveis... Enfim, o termo “filosofia” perdeu todo seu significado de disciplina específica e veio a ser entendido como qualquer coisa, que por si, não é coisa nenhuma.

Ora, a língua é, por natureza, um fenômeno vivo e, portanto, temos de nos conformar com a unanimidade no falar que, sem dúvida, é uma forma da ignorância ululante de se manifestar. Mas, como o “vírus” da semântica é altamente contagioso, e sobremodo, quando age na massa cefálica do vulgo mundano e passa a contagiar a tudo que se lhe aproxima, assim como esse “vírus” semântico atacou o termo “filosofia”, está atacando o sentido da palavra cabala, já tão mal tratada pelo ocultismo vigente e pelos dicionários encontradiços. Como tal, pasmem todos, a toda hora se ouve essa tirada acaciana de que a cabala é uma filosofia. Ou seja,  como conceito de filosofia foi esvaziado na sua figuração em vista de sua maior abrangência e, já não quer dizer coisa nenhuma: cabala, então, agora, já agredida pelo “vírus” semântico, também vai acabar por vir a significar nada.

Cumpre-nos, em tempo, acudir o paciente combalido, acometido pelo “vírus”. Embora possa dizer-se que Kabbalah é uma concepção de vida, esta concepção não é absolutamente filosófica (especulativa), porque é antes resultante da própria experiência da humanidade. E, da Sabedoria Anterior de que somos todos dotados. A Sabedoria é o canal da Essência de D’us e, portanto, sustenta todas as coisas (Bahir, A. Kaplan, pg. 129). Esta concepção é a da absoluta certeza. Pois a Kabbalah é antes de tudo uma mística. Toda mística se sustenta num pressuposto básico anterior, que é a fé uma certeza (moral) além da razão. Para a Kabbalah, como concepção monista, tudo é Um. Um abrange tudo. Vejam o Shemá (Deut. 6:4): - Escuta, ó Israel, O Senhor é nosso D’us. O Senhor é Um. Só D’us é. Só há uma única e absoluta realidade: D’us.

Isaías (6:3) Santo, santo, santo, o Senhor das Hostes, toda a terra é preenchida com Sua Glória. Ou Ezequiel (3:12) Bendita seja a Glória de D’us desde a sua morada. Conforme inferimos dessas duas instruções, esses aspectos expressam que D’us preenche todos os mundos, enquanto os envolve a todos.

Quando se diz que Ele preenche e que Ele envolve então, os próprios universos onde Ele se oculta, é que se trata do próprio conceito do Tzim-Tzum, elementar para a metodologia do pensamento cabalístico.

Em nosso modesto trabalho de instruções para formação de estudiosos da Kabbalah, “Elementos da Kabbalah” desenvolvemos a tese de que Kabbalah não é filosofia, nem religião e nem magia. Isso estribado  nos Ensinamentos da Tradição e, reportando-nos às palavras do mestre, rabi Moisés de Burgos (séc. XIII), excluindo o conhecimento cabalístico do filosófico: - Deveríeis saber que estes filósofos cuja sabedoria tanto elogiais terminam onde nós começamos. Eis aí.

Paz Plena.

domingo, 11 de setembro de 2011

COMENTANDO III


O MODELO EXTÁTICO (2º Modelo)


No seu artigo diz o exegeta MOSHE IDEL: O Êxtase é uma constante da experiência humana.


Assim chama a atenção de que as experiências extáticas vão se fazendo cada vez mais notórias, desde já os meados do séc. XIII, registrando-se por volta de século XV e XVI, depois de Abuláfia (séc. XIII), as  de Yossef Karo, as de Luria e de outros.


Característica é a observação do R. Isaac de Acre a respeito dessas experiências, quando explica que o segredo dos segredos é sempre participação com o Espírito divino: Aquele que merece o sagrado da comunhão (com o Divino) merecerá o segredo da equanimidade, e se ele recebe esse segredo, então conhecerá também o segredo da hitbodedut e uma vez que tenha conseguido da hitbodedut, receberá o Espírito divino, e daí a profecia, até ele profetizar e dizer coisas futuras.


Como se pode perceber a característica dessa prática de Kabbalah é o ideal da devekut. As técnicas capazes de assegurarem esses tipos de união com a divindade são hitbodedut, como certo tipo de meditação, seja pela solidão, seja pela concentração mental, ou hischtovut, dita equanimidade, e as célebres técnicas lingüísticas de combinar letras do Aleph-Beit com as do Tetragrammaton Sagrado e com a contemplação dos Nomes divinos. A importância dos componentes lingüísticos dessas técnicas são evidentemente marcantes.


Todavia, nenhum movimento teria acentuado tanto a importância das experiências pneumáticas quanto o hassidismo, na Polônia, o faria mais tarde. Assim, diz MOSHE IDEL, há boas razões para se crer que os manuscritos de Abuláfia (séc. XIII) teriam sido já conhecidos no séc. XVIII, na Europa Oriental.


Para a abordagem extática pode o cabalista usar a linguagem e os textos canônicos com o propósito de induzir a experiência mística, mediante a manipulação da linguagem acompanhada com outros componentes de outras técnicas. A teoria extática da linguagem seria, então, menos simbólica e teúrgica do que a da Kabbalah teosófica. Moshe Idel observa que... na Cabala extática a desconstrução dos textos canônicos, bem como da linguagem corriqueira, constitui importante ferramenta mística para reestruturar a psique humana.


(Continua na abordagem do 3º modelo)

HITBODEDUT NOTA/GLOSSÁRIO:
Rabi NACHMAN
Conforme se depreende dos ensinamentos de Rabi NACHMAN, HITBODEDUT é a palavra clássica para meditação, que quer dizer literalmente auto-isolamento mental. Ensinada pelo mestre Rabi Nachman, Hitbodebut seria a meditação interior dirigida. é o melhor e o mais alto nível de adoração. “Medito todas as noites sobre minha cama em lágrimas.” (Salmos 6:7) Esse era o costume do Rei David.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

LUMINOSIDADES

CHABAD

Retrato de Shneur Zalman de Liadi
 (1745-1812)

 
No seu leito de morte CHNÉOUR Zalman notara que não via no seu quarto nem móveis nem espaço, tão somente percebia a energia divina, a verdadeira realidade. Em um aforisma ele fez esta observação:

Como é que se aprende?
O que é que é o mundo? – É onde se aprende.
E o que é a alma? – É com que a gente aprende.

CHNÉOUR ZALMAN de Lyadi (1745-1812) é um dos ideólogos do Movimento do Hassidismo, dito Chabad, uma força dentro de hassidismo, cuja essência viria de DOV BAER “maggid de Mazeritch”.

Chabad, é o acrônimo de Hochmah, Binah e Daat, sabedoria, entendimento e conhecimento, clara referencia aos mundos superiores.

Para Chabad a idéia hassídica da negação da existência, ou da nihilificação do que é, toma uma dupla significação: tudo dantes que se liga ao mundo material, que para o homem é o real (o que é) do ponto de vista do divino, é como se fosse nada.

Eis porque o coro dos Serafins exclamava: Toda a terra é plena de Sua glória. Os hassidim Chabad tomaram esse verso pelo seu sentido literal e inferem disso que definitivamente não há coisa nenhuma senão a própria energia divina.

Hoje em dia, ainda, os chabadniks consagram uma hora inteira em cantarolando suavemente o SHEMA e, entregando-se inteiramente ao divino, restaurando, dessarte, em espírito, a unidade divina entre os mundos inferiores e os superiores.

LUMINOSIDADES

HITBODEDUT

Elias era um ser humano comum que vivia neste mundo (onde se aprende). Mas através da meditação isolada (e solidão), ele conseguiu alcançar um nível tão alto que nunca provou a morte. Isso que dizia o Rabi Nachman torna obvio que Elias só alcançou seu alto nível espiritual devido à prática do HITBODEDUT. Prática de outros grandes justos (Cochavê Or, Anshé Maharan 23, Jerusalém 1933, pg. 76)

domingo, 4 de setembro de 2011

COMENTANDO II


O Modelo Teúrgico-Teosófico

O mais conhecido dos modelos cabalísticos é teúrgico-teosófico. Por quê? Primeiro, porque se trata de um domínio de especulação que é tido como teosófico, e, por outro lado – e, isso é para se destacar – com a maneira como os feitos religiosos e humanos exerçam impacto sobre aquele campo que pode ser chamado de teúrgico (do grego theourgos – aquilo que trata do poder divino).

Para tal modelo, fundamental é a visão do reino divino, como constituído de uma série de dez fatores denominados de Sefirot (plural de Sefirah), já abordados alhures.

Sefirot são hipóstases divinas. Originalmente referiam-se a números (sêfer, com o radical hebraico das letras: samech (s), phe (f) e resh (r) sphr) místicos como desdobramentos do Infinito (Ein Sof). Trata-se de uma dinâmica onde o processo de interação entre esses poderes e eles próprios, assim como entre as atividades religiosas humanas e alguns desses poderes são a quintessência própria aos reinos divinos e humanos. Como as Sefirot formaram a essência divina, o reino divino aparece como um sistema complexo.

Cabalistas outros tomam as Sefirot como a divina presença no mundo, e há os que referem-nas como sendo poderes da alma humana.

Para Luria, o Leão de Safed, séc. XVI, todas essas configurações divinas nada mais são que naturezas antropomórficas evidentes, denominadas de PARTZVFIN (personalidades) que evidenciam a  principal estrutura de reino divino.

A TORÁ é também, concebida, enquanto símbolo, como representação da divina forma.

Um terceiro modelo teúrgico é central na Cabala Luriânica que se refere às centelhas espalhadas com a chevirah (quebradura) ha-Kelim.

O modelo teúrgico-teosófico de Safed (séc. XVI), acabaria como predominante e ele pressupõe que a linguagem reflete a estrutura interna do reino divino, o sistema sefirótico dos poderes divinos.

O rolo da TORÁ é um símbolo gráfico da forma divina, daí porque se supõe não tratar-se apenas de uma mensagem semântica da contemplação da maneira em que o texto foi dado, assim esse símbolo constitui uma representação fiel do inteiro mundo divino dentro da realidade inferior.
Outro tipo de símbolo: Jerusalém, concebida como o sítio unificado dos reinos mundano e divino, um locus onfálico a assumir a afinidade entre o nome e a entidade por ele designado.

Sem dúvidas, todo esse simbolismo é fundamentalmente um código para interpretar textos canônicos.

(continua)

Paz Plena. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

COMENTANDO


A preocupação de informar nos faz, às vezes, repetitivos. Mas nos escusamos sempre na justificativa de que nos move a intenção de sempre trazer mais luzes com outros novos enfoques.

Moshe Idel
Numa introdução que faz à Kabbalah, o especialista e exegeta MOSHE IDEL, uma das eminentes referências sobre o assunto, oferece-nos muitos subsídios esclarecedores para nossos estudos.  Dessarte, nos reporta ao fato de que, em suas formas bíblicas e rabínicas, o judaísmo é uma religião democrática e exotérica, que, no entanto, envolve dimensões místicas e significativas tendências esotéricas, entre as quais a Kabbalah é a mais encontradiça. Em na situando dentro do judaísmo, vai revelando aqui e acolá sua evolução através do espaço, lugares em que mais vicejara, e dos tempos quando se tornara mais influente.

Merece destaque a propriedade com que esclarece-nos, “Em geral, o ocultismo europeu assim como diversas formas de teosofia e franco-maçonaria européias foram substancialmente influenciadas pelo pensamento cabalístico. Após demonstrar a ligação de uma rica literatura oriunda da Kabbalah por mais de oito séculos, não unificada e com capitais divergências, revela três modelos mais importantes e explica que diversas espécies cabalísticas de literatura (...) concentraram seu foco ao menos em três modelos maiores: o mais importante, que proponho designar como teúrgico-teosófico, o outro secundário, estática e last but not last, o modelo mágico-talismânico.

É essa subdivisão que nos interessa mais imediatamente e consideramo-la como sintomática quanto às várias correntes cabalísticas que explicam as abordagens tão diversificadas para aqueles que tentam compreender a Kabbalah Válida para que os iniciantes não se deixem perder em suas buscas, e para que não lhes pareça mui dispersas essas ramificações e suas principais características, que estão longe de representarem uma linha unificada ou monocromática de pensamento que alegadamente muda no transcurso da história, como contingências que são do seu próprio desenvolvimento.

O próprio autor comenta que os cabalistas pretendiam que seus escritos constituíssem a antiga e oculta tradição judaica que continha a essência do judaísmo. Não obstante essa afirmação, as divergências conceituais entre as diversas escolas cabalísticas problematizam semelhante assunção. O impacto material antigo e medieval derivado de fontes não judaicas – basicamente fator de extração helenística, neoplatônica, hermética e neopitagórica – é significante e discernível em todos os tipos de Cabala como é o caso da filosofia, gramática, literatura e ciência medieval judaicos. A maioria dessas fontes foi mediada, modificada, e enriquecida por autores muçulmanos. Contudo, em acréscimo, a contribuição desses tipos especulativos de material, cabalistas da Idade Média,  também,  desenvolveram alguns modos de pensamentos encontrados em espécies mais antigas de literatura escrita, como a rabínica e as de caráter mágico (...)

Isso serve na contraposição a certas preconceituosas e malévolas opiniões de que a Kabbalah é concepção fechada e de exclusão, ligada tão somente a uma tradição sectária e hermética.

- Voltaremos ao assunto para tratar dos três modelos mencionados. –

(As citações são excertos da obra: Cabala, Cabalismo e Cabalistas. Ed. Perspectiva)