DEUS E O COMPASSO. Nesta pintura de William Blake, Deus utiliza um compasso para tornar real o desenho criativo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

LUMINOSIDADES II

O autor Elie Wiesel em seu livro “Homens sábios e suas histórias” (Companhia das Letras) diz que “O Talmud significa troca e respeito mútuo, ou seja, respeito ao outro.”
Sem dúvida sem respeito não há menor possibilidade de entendimento entre os seres humanos. Nem mesmo pode haver amor se não há respeito. Daí a célebre sentença de Hillel: Não faças ao outro o que não queres que te façam.
Diz o autor citado que a essência do Talmude é combater a indiferença, e conta-nos o seguinte fato histórico que muita gente ignora, quanto ao rabino Shimon Ha Tzaddik, o último sobrevivente da Grande Assembléia. Numa enorme plêiade de ilustres personagens foi o único que manteve a alcunha de TZADDIK, o Justo. Do seu ensinamento ficou: “Três coisas sustenta  o mundo: o estudo da Torá, o serviço no Templo e a caridade.”
Conta-nos então, que Shimon Ha Tzaddik foi contemporâneo de Alexandre, o Grande. O sábio rabino procurou o célebre conquistador para pedir-lhe intercedesse por Jerusalém ameaçada pelo recair de Israel, os kutim (samaritanos). Marchou noite adentro à  luz de tochas. Pela manhã quando Alexandre posou sobre ele o seu olhar, apeou-se de sua carruagem e ajoelhou-se diante dele, exclamando “Bendito seja o Deus de Shimor o Justo”.
 Atônitos os kutim  exclamaram:  -Como um conquistador de tal magnitude pode se humilhar perante um judeu? E Alexandre lhes respondera: “Em todas as minhas vitórias militares, era o rosto dele que me aparecia diante dos olhos.”

Busto de de Alexandre conhecido como Azara Herm. Cópia romana em mármore do original de Lisipo, de 330 a.C. (museu do Louvre). Segundo Plutarco, as esculturas de Lisipo representavam fielmente o famoso conquistador macedônio.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A EXISTÊNCIA E OS SEFIROTES

No seu comentário ao Bahir, explica Arieh Kaplan: Para que um Deus totalmente transcendental se relacione com a sua criação, uma série de Dez Sefirotes teve de ser trazida à Existência.
E, antes de mais nada, as Sefirotes expressam a grandeza do Absoluto, e é através das Sefirotes que Ele expressa a Sua Previdência sobre a criação. E, finalmente, as Sefirotes expressam a Sua Glória.
O mundo perfeito e imutável emana da Primeira-Coroa Kéter e é eterno. O que está além desta primeira Coroa ainda é atemporal, que é o Mundo da Emanação. Aí a Existência é sem fim, conforme a Vontade do Absoluto. De Kéter-Coroa flui tudo que é. O que flui é a Existência Manifesta, a origem manifesta do Mundo. Mas, tudo isso ainda se situa próximo ao Absoluto; no entanto, já é separado Dele. Azilut, o Mundo das Luzes Divinas, e da Emanação é trazido à Existência através de dez Pronunciamentos. Surgidos ao Fogo Neutro da Existência Não-Manifesta no Fogo Branco de Azilut. No nível espiritual, Azilut é Proximidade.
As 10 Declarações correspondem às Dez Sefirotes e são sua reflexão no mundo físico.
As Dez Declarações:
1.       “Haja Luz” – Genese 1:3 – Cachamah – Sabedoria
2.       “Haja um Firmamento” – 1:16 – Binah – Compreensão
3.       “Que as águas se reúnam” – 1:9 – Chesed – Amor (Compaixão)
4.       “Que a terra verdeje de verdura” - 1:11 – Gevurah – Força
5.       “Haja luzeiros no firmamento” – 11:14 – Tiferet – Beleza
6.       “Fervilhem as águas um fervilhar de seres vivos” – 1:20 – Netzah – Vitória
7.       “Que a terra produza seres vivos” – 1:24 – Hod – Esplendor
8.       Façamos o homem à nossa imagem” – 1:26 – Yesod – Fundação
9.       “Dá-nos toda verdura” – 1:24 – Malchut – Reino
A Décima Declaração está contida no Primeiro Versículo: “No Princípio Deus criou o céu e a terra” e é correspondente a Kéter-Coroa, a primeira séfira.
Até mesmo Kéter-Coroa deve receber a Existência da Entidade Infinita que está acima desta séfira e, ainda que seja ela, Kéter-Coroa, o mais elevado elemento, é infinitamente inferior à Entidade Infinita.
Como em todas as hipóstases o Logo aparece tanto como uma força (potência) tanto como uma Personificação. Assim, como temos Proximidade, temos Personificação.
O conceito de Emanação é o de um processo no interior de D’us, segundo o qual o Universo se dá pela Vontade Dele. Mas é Kéter-Coroa que expressa essa Vontade.
No processo de nossa compreensão vamos aderindo conceitos a conceitos que virão sempre recorrentes. Destarte, quando estabelecêramos o conceito de Yachid, o Único, cuidávamos de evidenciar a singularidade e simplicidade do Incriado. E, dizíamos, que só poderíamos entender o Único através de atributos negativos, portanto, Aquele que é (o Ser) pode também ser Aquele que não é (o Não-Ser). O Ser é a Existência Não-Manifesta, a um tempo, Não-Ser; A Inexistência. Ora, o que está mais afastado desta Existência Não-Manifesta é o Reino – Realeza – Malchut, é a décima séfira, que é o nadir da Existência Manifesta. Como Malchut é a Esfera da Forma, é nesta esfera que a Existência Manifesta toma forma, aquela forma potencialmente expressa em Binah (a terceira séfira). Já sabemos que sem o efeito físico jamais se distinguiria níveis espirituais, também sem a Existência Manifesta não se entenderia a Existência Não-Manifesta. Portanto, O Reino, a Realeza, a Existência material é que nos permite, como tal o essencialmente físico, concluir o essencialmente espiritual, que é a Existência Não-Manifesta.
Contudo, as Sefirotes são elementos espirituais, que precedem o mundo físico e representam um domínio que está antes do tempo, quando presente, passado e futuro são só uma coisa. Ou nem são !

O texto yezirático na sua transparência cristalina é incisivo:

Dez Sefirotes do nada,
Dez e não nove,
Dez e não onze,
Entende (Binah) com Sabedoria (Hochmah)
Sê Sábio (Hochmah) com Entendimento (Binah),
(reparem na inter-relação, na interdependência, no fuzionamento que as sizígias sempre denotam)
Examine com elas e sonda delas,
Faz com que (cada) coisa se erga sobre sua essência
E faz o Criador sentar em Sua base.

Kéter-Coroa é Vontade, mas é Kéter, tão só uma Séfira, que vai representar aquela Vontade que dá impulso inicial à Existência. Vejam, quando o texto afirma, peremptoriamente, que as Sefirotes são dez, não nove, isso confirma que é Kéter que é Vontade, pois se o Criador fosse Vontade (um atributo positivo, como pode?), Kéter-Coroa, que é uma Séfira, seria igual a D’us. E como ? E daí,  só restariam nove sefirotes; mas elas são dez, não nove, não onze ! Como são dez, Kéter é, pois, tão só, uma Séfira, a da Vontade, uma séfira, Vontade, e não um atributo ao Divino. E, quando o texto reitera que é dez, e não onze, é para que não nos esqueçamos que D’us não é séfira, senão ter-se-ia onze Sefirotes: D’us mais dez Sefirotes ! Mas, valte então, também, a afirmação de que o Criador está fora do universo sefirótico, ainda que o emane e o manifeste, já que este universo está longe da Entidade Infinita, absolutamente longe !
A Criação emana, imaterialmente, de um além da plenitude do Ser, na qual toda condensação, - supramente livre – não representa senão a superabundância, a pletora e a gratuidade Dele. Diríamos de Sua Graça.
Continua.

GLOSSÁRIO:
Keter – Primeira Séfira – Coroa
Mundo da Emanação, ou Mundo de Azilut, plano da Divindade, das idéias puras
Azilut – Mundo das Emanações, Luzes Divinas
Hipóstase -  Em teologia, a Trindade com 3 pessoas distintas em uma só. Do grego Hipostase, o que é o ponto de baixo. Em Kabbalah refere-se a emanação como tal, ou descesso sefirótico.
Malchut – O Reino, a Realeza, o mundo físico
Binah – 3ª esfera, 3ª séfira, compreensão, entendimento na coluna da Forma. Ao contrário de Hochmah a 2ª Séfira, A Sabedoria, pura força, Binah representa a energia que se transforma em força. A forma em potencial.
Sizigias – Pares de deuses consortes (em egiptologia). O termo se aplica à polaridade das sefírotes na Árvore da Vida, quando uma séfira se complementa com a outra.

LUMINOSIDADES (Curiosidades Luminosas)

ISAAC ABOAB DA FONSECA (1605-1693) foi um rabino, erudito cabalista e escritor. Foi o primeiro religioso judeu das Américas. Nasceu em Castro Daire, Portugal, mas sua educação, a partir dos sete anos, foi feita na Holanda. Foi o primeiro rabino do Novo-Mundo. Em 1642, Aboab da Fonseca foi nomeado rabino na Sinagoga Kahal Zur Israel, na colônia holandesa de Pernambuco, Recife, Brasil.
Retrato do rabino Isaac Aboab da Fonseca. Este trabalho é uma tradução do Pentateuco em espanhol, com um comentário do Rabino Fonseca. Ele foi preparado para os judeus no Brasil holandês, que por causa de sua herança ibérica, eram capazes de ler em espanhol.
Fonte: Wikipedia

quinta-feira, 17 de março de 2011

A IMPORTÂNCIA DOS FUNDAMENTOS

Embora modernamente o “fundamentalismo” como termo tenha tomado um sentido tanto pervertido, pura questão de semântica, devemos ter em mente que, sem fundamentos, não há como estabelecer a infra-estrutura de qualquer pensamento, ideologia ou teoria do conhecimento.
Para a Kabbalah teosófica, três são os fundamentos:
O Sagrado Nome de D’us – O Tetragrammaton, IHVH; o alfabeto hebraico, o Aleph-Beit e a ÁRVORE DAS VIDAS.


Tetragrammaton

Para entender a ÁRVORE é mister conhecer o significado dos sefirot (plural de sefirá). Os principiantes, ou mesmo os “adeptos”, dado a dificuldade da compreensão do conceito do que venham ser os sefirot vão ter sempre alguma incerteza quanto à sua significação.
E como não se pode falar de Kabbalah sem se referir a esses Três Fundamentos, e a toda hora recorremos à simbologia do Sefirotes; assim, quando não se tomou clara noção do seu significado, tudo mais vai ficar confuso, daí a imputação de que a Kabbalah é muito difícil.
Vamos começar a esclarecer nas próximas postagens.
Paz plena !
Ozâmpin

sexta-feira, 11 de março de 2011

IR ALÉM DO NOSSO ENTENDIMENTO !

“... e não te fixa apenas em teu entendimento...”

A grande reflexão da KABBALAH é o Todo Poderoso. Não é, pois, que a toda hora se lhe propõem questões como tais: - Se existe um deus bom e justo, onipotente etc e etc, por que tanta injustiça, miséria e iniquidade ?
Até mesmo pessoas cultas repetem esse estribilho, todavia, pessoas cultas não são necessariamente inteligentes...
Rabi Sanai diz: NÃO está a nosso alcance (entender ou explicar) o sossego dos maus nem o sofrimentos dos justos. (MISHNÁ 19)  Segundo o Rabi essa resposta está fora do nosso entendimento.
Mas a pergunta procede para quem pensa que a divindade é ela da mesma natureza dos homens e concede-lhe os mesmos atributos com que nos qualifica. Entretanto, D’us é essência e, jamais, conseguiremos atinar com o que venha a ser essa essência. Quanto aos atributos, como se lhe há de atribuir qualidades, se Ele é o que não é !?
Salomão já nos ensinara falando da sabedoria da Torá: Se a buscares como prata, e procurares por ela como um tesouro escondido, então entenderás a reverência diante do Eterno e encontrarás o conhecimento de D’us. (Provérbios, 2:4-5)
Moisés como habitual interlocutor dos homens junto ao Eterno diz-lhe: Rogo-Te, se de fato achei graças aos Teus olhos, faze-me, rogo reconhecer Teus caminhos, para que possa compreender-Te. (Êxodo 33:13)
O Talmud interpreta esta passagem assim: Ó Rei do Universo, por que as coisas vão bem para alguns justos, e mal para outros? Por que alguns iníquos têm boa fortuna e outros não ? (T.B.Berachót, 7 a.)
Permitam-me certa observação fora do assunto, no entanto, pertinente quanto ao conceito de “Senhor do Universo”; e o de universo, tão somente, como natureza. Moisés, que conhecia as coisas, dirigia-se ao Eterno como o Senhor do Universo; por que será, então, que hoje, líderes espirituais (sic?) e esoteristas (serão?) “moderninhos”, dirigem-se ao Universo, como se fora uma “entidade”  e como se ele não tivesse um Senhor, e como se ele pudera ter algum poder para nos atender ?
Da onde vem esse novo e inculto panteísmo? Diz o Segundo Mandamento: - NÃO TERÁS OUTROS DEUSES DIANTE DE MIM !
Voltemos ao nosso tema:
Finalmente, o TODO PODEROSO lhe disse: - Verás minhas costas, mas Minha face não será vista. (Sbid, 23)
Irvin M. Bunim, autor da obra “Ética do Sinai” comenta que as costas representam o passado, o rosto, o presente, e esclarece: - A réplica do Todo Poderoso significa que U. não pode saber os motivos para a boa ou má sorte de alguém, pois, como ser humano, só lhe é dado conhecer o passado e não o futuro, o que torna a sua visão limitada. Como julgar, então, se o Eterno trata alguém com justiça ?

Dessarte, muito ao contrário, ao invés de pretendermos julgar os processos da Divindade, melhor fora cuidássemos de nosso entendimento.
O ZOHAR diz que O homem deve sempre ver a si mesmo como se o destino do mundo inteiro dependesse dele. (2,42a).

Paz Plena !

Ozâmpin, março de 2011.

LUMINOSIDADES (São curiosidades luminosas)

Duma feita, um discípulo perguntou ao Rabi Akiva (c.40-135 d. C): Rabi, quem é rico ?
Ele respondeu:   Aquele que tem o amor de uma mulher !
A própria vida do Rabi é uma história de amor, das mais edificantes e dramáticas.

Rabi Akiva ben Yossef, célebre figura do Talmude, aprendeu a ler e escrever só aos quarenta anos. Sua vida, ela própria, é uma história de amor, por uma mulher e pelo estudo da Torá. Era pastor de um dos homens mais ricos de Jerusalém e, apesar de sua situação inferior, atraiu a atenção da bela filha, Rachel, de seu patrão. Os dois acabaram por se casarem, secretamente, desde que Akiva aceitara aprender a Torá. O pai de Raquel renegou-os. E vivenciaram extrema pobreza. Akiva teve apoio de Rachel para viajar para LOD a fim de se dedicar ao estudo do Talmude, só retornando doze anos mais tarde, quando nessa ocasião ouviu certo homem perguntar à sua mulher: “Quanto tempo ainda viverás como viúva?” Ela respondeu, sem saber que Akiva presenciava o diálogo: Se ele pudesse ouvir a minha voz, eu lhe diria para continuar seus estudos por mais doze anos. Sem se mostrar então, ele retornou para LOD por mais doze anos...
Quando  retornou acompanhado por mais de 24.000 discípulos, Rachel correu para seus braços e como alguém se assustasse e quisesse intervir, protestou o Rabi: Não toques nela ! Tudo aquilo que consegui, e tudo que vós conseguistes, foi por mérito dela.
Mais tarde, seu sogro arrependido lhe outorgaria parte da fortuna.
Mas Akiva ainda sofreria bem mais por amor: quando o governo romano o prendera por ensinar a Torá em público, torturando-o até a morte. Em vida viveu pelos seus amores. Na morte, deu testemunho !


GLOSSÁRIO:

Talmud (hebraico, significa “estudo”). A mais importante obra da TORÁ ORAL. Em aramaico GUEMARÁ. O Talmude foi redigido numa versão palestina em c. 400 d. C., e numa versão babilônia cerca de 100 anos depois. Essas duas versões, a de Jerusalém e da Babilônia refletem diferenças entre as condições sociais e pontos de vistas das comunidades da Terra Santa e da Babilônia. O Talmud babilônio é a principal matéria de estudo nas academias de IESHIVÁ, onde predomina um método dialético de exegese.
O Talmude contém ordens, tratados e capítulos. Há 06 ordens, 63 tratados e 517 capítulos. A sua sequência é similar à da MISHNÁ. Entre os mais conhecidos tratadistas do Talmude, cita-se:
RABI AKIVA (c. 40-135 d.C);
RABI ASHI (352-477);
RABI ELAZAR bem AZARYAN;
HILLEL, um dos mais célebre e famosos TANNAIV, que são comentadores da MISHNÁ;
RABI HUNA;
RABI YOHANNAN BEM ZAKKAI;
RABI MEIR.


sexta-feira, 4 de março de 2011

FALANDO DE EGO ...

Foi Freud quem reconheceu que há dois níveis de atividade psicológica: o consciente e o inconsciente.
O Ego vem a ser aquela função da mente consciente que age como uma ponte entre os impulsos do id (nefesh) e as restrições do super-ego. Este modelo básico da psicologia freudiana, ainda mais desenvolvido pelas outras correntes psicológicas que se lhe sucederam, revela um sistema tripartite que bem pode ser relacionado à parte inferior da Árvore Sefirótica. Para a Kabbalah, o foco da consciência psíquica reside no Ego, que vem a ser na Árvore Daat-Yerod; enquanto que o que está inconsciente (ou sub-consciente, noutra maneira de conceber) está além da linha do limiar; (no modelo que adotamos da Árvore esse é o caminho representado pela letra NUN (e, no TARÔ,o Arcano XIV, a Temperança) entre Hod e Nezah.

A Temperança, segundo Jean Dodal
Assim, segundo a Kabbalah, o ego pode ser o foco de muitos processos que se dão entre a face superior do corpo (Árvore de Assiyah) e a face inferior da psique, (Árvore de Yezirah). Esse Ego (Yesod) vai diferenciar-se de Malchut mediante a própria experiência da encarnação, entre o corpo e a psique, em controlando aqueles impulsos do Id (Nefesh). Como tal o ego vem a ser o centro de recepção externo da psique, controlando e equilibrando humores, sentimentos, pensamentos, e, até comportamentos da psique inferior.
Então, o ego deve ser tomado como uma entidade dentro da própria psique. E não, como a identidade da pessoa, como parece entenderem uns.
O ego é, apenas, - mas como isso é fundamental ! – o que chamamos de “fundação da psique”. Daí, denominarmos o Yesod de Fundação.  Para a Kabbalah, psique e alma são coisas distintas entre si, muito embora possam ser estudadas em conjunto; tem-de-se levar em conta que são especificamente diferentes uma da outra: - a alma é antes um veículo da consciência do Si-mesmo, da consciência do indivíduo. É onde a pessoa se avalia e é um agente do livre-arbitrio, enquanto que a psique é apenas a consciência do corpo.
Dessarte, não se pode “anular, ou aniquilar o Ego”, como soem dizer, e, sim, alinhá-lo com a Consciencia Superior (Tiferet). Alinhamento da psique e da alma, é o que resulta.
Nem podemos abrodar esse assunto sem antes estabelecermos conceito de como ele ( ego) opera, a fim de não cairmos no erro infantil de certo pseudo-esoterismo que, em desconhecendo o que vem a ser a Fundação para a pessoa, acredita possa-se destruir a função do ego, ao invés de alinhá-lo, para o crescimento que se almeja.
O mito egípcio de como omitir Set (a ignorância, processo mitificado como “asno”) depois de vencido é integrado à Barca Solar; exemplifica o despojamento e a integração do ego à psique, como harmonização entre psique e alma.
Voltaremos ao assunto que não se exaure em algumas linhas.
Paz Plena !
Ozâmpin
Março de 2011.

LUMINOSIDADES

Assim escrevia o Rav. Aryeh Kaplan.

Pensemos por um momento no maior amor que já tivemos na vida. Quem já amou profundamente sabe que há um estágio em que a mente se torna quase que obcecada pela pessoa amada. Não importa o que esteja fazendo – comendo, dormindo, trabalhando -, a pessoa amada paira em um canto da consciência. Tudo o mais é destituído de importância – como se apenas deixássemos o tempo passar, até poder ver ou falar com a pessoa novamente. Os demais prazeres do mundo são secundários diante do prazer de estar na presença do ser amado.
Conhecedor que foi da alma humana, o rabino de tão abençoada sabedoria assim completaria seu pensamento:
É possível amar a Deus dessa maneira e com uma intensidade maior. Há um nível de amor em que se deseja e anseia constantemente pela proximidade de Deus.

Só mesmo quem já amou alguém de verdade pode vir a entender que se pode também amar a Deus desse modo; pois todo amor é tão só D’us !

ENSINAMENTOS

De MOSHE CORDOVERO (RAMAC) 1522, “Tamareira de Devorá”:
Outro grande cuidado que o homem deve ter é cuidar para que SCHECHINÁ não se afaste de si. É evidente que enquanto o homem não desposa uma mulher, a Schechiná não se encontra com ele completamente, pois o meio principal que a Schechiná se relaciona com o homem é através do aspecto feminino.
(...) Uma vez  que a Schechiná se junta a ele, o homem deve ter cuidade para que Ela não se afaste dele... para que ele não fique abandonado e separado.


GLOSSÁRIO:

SCHECHINÁ (significa “morada em”). Presença divina, ou imanência de D’us. Frequentemente usado como sinônimo de D’us, ou da Providência Divina.
Para a Kabbalah é a séfira mais ostensivamente feminina, portanto, Malchut, a última das dez sefirat. Referida como a “filha de Deus”, simbolicamente. É como a lua refletindo a luz divina para o mundo.